Na semana que findou, cometi dois erros prosaicos. Desses facilmente contornáveis. Porém, fiquei muito incomodado. Tentei esconder o quanto pude o ocorrido. Depois, refletindo, dei-me conta do grau absurdo de cobrança que tenho sustentado ao longo dos anos. E certamente acabo projetando-o sobre os que convivem comigo. Como consolo, percebo isso ter se tornado comportamento recorrente nos nossos dias. Estamos sendo afetados por exigências extremas em relação ao que nos cerca. Toleramos mal qualquer miudeza que nos desvie de algum ideário traçado inicialmente. Resultado inequívoco de sociedades afeitas a entronizar a perfeição como absolutamente inquestionável. E, no entanto, ensinam-nos todos os sábios, o caminho da aprendizagem passa, necessariamente, por rotas imprevistas. Um pouco de tolerância fará baixar nossas expectativas. E, consequentemente, a frustração ocupará espaço diminuto. É difícil acolchoar tudo, impedindo colisões mínimas, da ordem do humano. O empenho e a dedicação parecem ser insuficientes, ficando aquém das esperanças nutridas. Manter o conceito de infalibilidade é estrada espinhosa, que gera ansiedade e decepção.
Relaxemos, sempre com o olhar voltado para o saudável dentro de nós. Tenho tentado ser condescendente, ampliando minha consciência sobre a questão. Quase tudo pode ser revisto, repensado... Mas há de se entender porque chegamos a um ponto tão crucial. Lembre: tais obrigações se revelaram incontornáveis, ninguém consegue dar plena conta delas. Vozes vindas não sabemos de onde parecem nos dizer constantemente: “Atenção! Ao menor descuido você corre o risco de ser substituído.” Vale para o trabalho, os amigos e os amores. É bom cobrar de si o melhor, mas observe os limites do possível. Ultrapassados, tendem a extrapolar o razoável. O mundo supostamente irretocável das redes sociais potencializou essa ideia. Ali estamos bem distantes dos acontecimentos reais. É em outro espaço que tudo acontece, cheio de falhas e tentativas precisando de revisão a toda hora. Somos pouco propensos a compreender esta verdade: os grandes expoentes do conhecimento precisaram lidar com a frustração por terem tomado decisões equivocadas em determinado momento. Hoje são admirados não por terem escondido algo destinado ao fracasso, mas justamente por incorporá-lo ao seu universo de crescimento.
Provavelmente continuarei me torturando mentalmente várias vezes ainda. Entretanto, amplio a vigilância, tentando fugir da escravidão de algo nem sempre controlável. Quero trocar essa comprovada prisão pela possibilidade de passear livremente, sem tantas amarras. E conseguir dizer em alto e bom som: errei, desculpe. Começo a aceitar e entender o que antes era imperdoável