“Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito.” Inicio este texto citando Epicuro, em sua Carta a Meneceu. Meu intento é falar sobre a importância de nos prepararmos para a última fase da vida, quando o corpo tantas vezes se fragiliza e é exigida grande fortaleza da alma. Refletindo sobre o assunto, percebo que este projeto deve governar nossos dias desde cedo. Seres propícios à distração, a todo momento somos forçosamente lembrados de quão fugidia é a realidade. Hoje, o fulgor da juventude; amanhã, o tempo do balanço final. Evitemos esperar, pois, do nascimento à morte, temos diante de nós uma pequena eternidade para nos transformarmos em criaturas empenhadas em domesticar nossos impulsos e paixões, princípio norteador na busca da serenidade.
A pele pode perder o viço, mas o gosto por aprender há de permanecer incandescente como uma tocha luminosa. Precisamos construir lentamente o edifício da sabedoria. Ele brota longe do acaso. E não necessariamente da sucessão dos anos vividos. Aos oitenta, podemos ser mais tolos do que na juventude. Usar de escudo contra a estultice o fato de termos chegado à certa idade soa como argumento dos preguiçosos, inclinados a uma existência de procrastinação.
Portanto, a análise do que pretendemos abraçar exige disciplina renovada e o intento de extrair de todas as horas lampejos de conhecimento. Muitos se valem da tão incensada experiência como salvo-conduto para justificar suas atitudes. Creio ser isso insuficiente para fundar uma verdade intocável. A maioria de nós atravessa as décadas quase exclusivamente preocupados em dedicar-se à carreira e à família, raramente meditando sobre sua disposição para o crescimento individual. São determinações que têm o seu lugar, ninguém contesta, mas podem caminhar juntas com propósitos superiores, como a aceitação da impermanência e a beleza em tecer continuados laços de amizade. Desconsideremos o volátil, deixando de lado a tão apregoada utilidade. Agregue um cadinho de fé e reconhecerá na humildade algo imprescindível ao aprimoramento pessoal. Entendido aqui como a lenta depuração do próprio eu, descortinando valores destinados a perdurar. Quando isso não acontece, resta apenas uma casca inútil e vazia, o ocaso anunciando sua chegada.
Apressemo-nos, se quisermos ser uma agradável companhia para os que nos sucederão. Pouco importa os movimentos se tornarem lentos. Ganharemos outra espécie de agilidade, criando asas onde antes havia a imobilidade e a estagnação. Para tanto, trabalhe ininterruptamente. Assim, ensina-nos ainda Epicuro, “viverás como um deus entre os homens”.