Ando inclinado a me afastar, discretamente, dos seres excessivamente críticos - embora eu o seja em alguns momentos. Mas estou fazendo uma saudável revisão a respeito disso. Acho aprazível conversar com quem costumeiramente vê o lado bom, mesmo correndo o risco de parecer alienado. Tomo como exemplo o multitalentoso Nelson Motta. Ele disse: “Meu pai recomendava falar sempre bem de uma pessoa pelas costas. Basta uma palavra de simpatia e ela acabará sabendo. ‘Vai estar com o Gledson? Grande figura.’ Afinal, o que custava um elogio? Sempre há algo a elogiar em alguém. A vaidade é o ponto fraco dos fortes.” Como é simpático agir assim! Mas raramente estamos dispostos a esse generoso acolhimento. Um tanto por preguiça, outro por inveja. Andamos meio ranzinzas, nesta época em que somos escrutinados constantemente, como se vivêssemos expostos numa praça. E não estamos? Enfim...
Perdi a vontade de colocar uma lupa sobre tanta miudeza. E de conviver com os eternamente insatisfeitos. Pior ainda, com os mornos de opinião. Ou gosta ou não gosta. Posicione-se, ora. E quando começamos a desenvolver tal postura (é uma questão de treino, na maioria das vezes), passa a ser extremamente natural. Se assisto a um filme ou leio um livro que me desagradam, esqueço. Evito ampliar o involuntário papel de relações públicas, gritando aos quatro ventos o quanto detestei. Por que desperdiçar preciosas horas falando mal? Cansa e o resultado costuma ser o de despertar o interesse alheio. Quando, ao contrário, o propósito seria relegá-lo ao esquecimento. Claro, longe de precisarmos amar indiscriminadamente o mundo como se só fosse feito de maravilhas. Há tantas coisas deploráveis ganhando importância. Consequência direta do tão incensado marketing, passando longe do merecimento. É e foi assim alhures. Na Grécia antiga, por exemplo, filósofos e dramaturgos medíocres viam seus trabalhos obtendo expressiva notoriedade, solapando o mérito de gênios admirados até hoje. O tempo aplaina tudo e preserva o que merece receber o carimbo de “clássico”. Nada custa nos aliarmos ao time dos empenhados em se focar na pepita de ouro, ignorando a montanha de pedras ao seu redor.
Pode-se ser um pouco mais agradável do que comumente consideramos satisfatório. E essa conduta, no meu dicionário particular, significa abraçar (ao menos com os olhos) quem faz parte do nosso dia a dia. Como disse lindamente uma mulher no Instagram, referindo-se à amizade: “Tem gente que decora a nossa vida!” Pois seja ela bem colorida, de preferência com luzes de neon. Pode soar meio cafona (gosto da sonoridade desse vocábulo), mas certamente me aproximará dos que são experts em extrair beleza. Azedume? Passo ao largo, obrigado! Vou furar a fila e dizer a Clara como estava bonita ontem à noite. Ou ao João: você é um ótimo ser humano e me sinto privilegiado em ser seu amigo. As qualidades dos outros são o combustível para meu contentamento.