Era o que tínhamos para o momento: revistas! Está certo que os jornais da época nos mantinham diariamente informados sobre as primeiras Copas. Mas jornal, naqueles dias, ainda era em preto e branco. E o rádio, que oferecia o maior volume de boa informação, e com rapidez, aquilo não era palpável, circulava em ondas pelo ar. Também havia o problema da sintonia de uma emissora da Capital em uma cidade a 500 quilômetros de distância. Algo possível apenas pelas chamadas ondas curtas, em 31 e 45 metros, com a antena obrigatoriamente esticada no ar. Ou em ondas médias à noite, mas qualidade sonora sujeita a todo tipo de interferência, com sinal que fugia e se tornava fraco. Era assim que recebíamos as notícias da Copa.
Então, em uma época em que a tevê em cores ainda não havia chegado, na Copa de 70, as revistas entregavam o maior impacto visual da Copa, com fotos grandes e em cores dos lances das partidas, dos jogadores, do ambiente dos jogos. Quem sabe aquilo, desde cedo, tenha despertado uma paixão pelo jornalismo. Apressava-me para ter as revistas em mãos. Algo incomparável com as possibilidades instantâneas de hoje em dia sobre as imagens e as notícias da Copa, que frequentam nossos aparelhos celulares e são compartilhadas infinitamente, com as imagens em tempo real em alta definição das tevês e uma infinidade de programas, o tempo todo, nas tevês por assinatura. Uma overdose, sem dúvida. Mas aquelas revistas do fim dos Anos 60, início dos Anos 70, quanto glamour! Traziam fotos e textos que documentavam e eternizavam a informação, os jogos da Copa, em meio à posição editorial de todas elas, em tempos conturbados, em meio ao ambiente turbulento e explosivo e ao noticiário restrito.
Havia três revistas principais de circulação nacional que ofereciam fotos em cores dos jogos da Copa: Manchete, O Cruzeiro e Fatos & Fotos. Eram revistas em formato grande, bem maior do que as revistas de hoje, em papel acetinado, o que dava mais brilho às fotos. Havia, porém, um problema: a demora. Eram semanais, e precisavam ser aguardadas, até que chegassem nas bancas. Mas chegavam. E ali estavam diante dos olhos as fotos que captavam detalhes dos jogos, o que não era possível ver na tevê. Como o detalhe do chapéu de um fotógrafo que aparecia na foto do gol de Rivelino no 3 a 1 contra o Uruguai. Quem acompanhou esse tempo deve se lembrar. As revistas nos aproximavam da Copa.
Lembro da espera pelas revistas que festejavam a conquista do tricampeonato na Copa do México. Uma página com a foto grande e a trajetória de cada um dos jogadores. Uma foto imensa de cada titular e de cada reserva, uma pagina para cada um. Lembro, também, de todos os 22 jogadores, do técnico Zagallo, do preparador físico Admildo Chirol, do assessor da comissão técnica Carlos Alberto Parreira. As revistas perenizavam as Copas e conquistas, e com fotos em cores. Uau! Era um show de imagens e de informação. Logo no início dos Anos 70, surgia a revista especializada em esportes, a Placar. E, aos poucos, a informação foi ganhando recursos, plataformas, tecnologia, alcance. Mas impacto visual, repercussão, a perenidade daquele tricampeonato inesquecível e o registro histórico daquele futebol romântico, isso era com as revistas de circulação nacional da época. Era o que tínhamos para o momento, mas traziam a Copa para perto de nós. Em cores.
* Durante toda a Copa do Mundo, o colunista Ciro Fabres publicará em GZH Histórias de Copa, uma coletânea de crônicas e histórias embaladas em torno das Copas do Mundo, desde a primeira delas acompanhada pelo colunista, a de 1970, no México. Com a Copa do Qatar, são 14 Copas.