O mais recente fiasco da Seleção Brasileira, eliminada da Copa América pelo valente Uruguai nos pênaltis, não surpreendeu ninguém. É sintomático que 10 anos depois do tenebroso 7x1, em que a Alemanha nos despachou da Copa do Mundo aqui em nosso território, corremos o sério risco de ficarmos fora da próxima Copa em 2026.
O esporte é uma metáfora perfeita da vida em si, por isso preciso falar de uma foto específica dessa última partida contra o Uruguai: ela mostrava a garrafinha de água do goleiro Sergio Rochet (ou Chino Rochet, como nós, colorados, o chamamos). Nela havia um papel colado escrito a caneta com os números de cada jogador da seleção brasileira e os dizeres DER (de derecha), IZQ (de izquierda) e apenas dois números onde se lia NO (provavelmente significando “não”). Claramente, essa “colinha” indicava que o goleiro uruguaio havia estudado a forma preferencial com que cada jogador brasileiro cobrava as penalidades. Em caso de decisão por pênaltis, as chances de pegar a bola e de eliminar o adversário aumentavam consideravelmente tendo em mãos essas informações. Não havia certeza, mas havia a base sólida do preparo que traz confiança.
Num jogo, num campeonato, na vida, ter confiança é fundamental. Contudo, não se trata daquela confiança oriunda de mera arrogância, mas sim da segurança que só se conquista por meio do preparo e de todas as horas de trabalho dedicadas a isso. Por muitos anos, a Seleção Brasileira e a CBF, enquanto instituição, viveram das glórias conquistadas pelo talento e pelo profissionalismo das grandes gerações anteriores, sendo a última a seleção de 2002 que conquistou o Penta (quem viu, viu). A partir daí, os talentos continuaram surgindo, mas parece que o futebol brasileiro entrou numa espiral descendente que culminou naquele vexame do 7x1 uma década atrás.
O Brasil ainda carrega o peso da camisa e da história, mas já não impõe mais tanto respeito quanto tinha, e muito menos a seleção é amada pelos cidadãos brasileiros. Ninguém mais aguenta jogador balaqueiro e desonrado que acha que está fazendo um favor ao servir seu país. Ninguém mais aguenta a falta de profissionalismo da CBF e seus conchavos. E isso é só a ponta do iceberg.
Como tudo na vida, uma decadência nunca tem uma causa única: são vários fatores que, somados, levam ao inevitável fracasso. Mas me chama muito a atenção o fato de que a ética do estudo, do respeito pelo adversário e da honra ao manto que vestem estejam há anos por trás do trabalho da Seleção Uruguaia. Mesmo representando um país com menos de 4 milhões de habitantes, está sempre em posição de protagonista de várias competições, é respeitada e admirada não só pelos próprios uruguaios, mas também por torcedores de futebol no mundo todo.
O Brasil, com seus 200 milhões de habitantes e um território que se confunde com a própria América do Sul, parece ter esquecido o real caminho para a vitória (e este texto não é só sobre futebol).