Já faz uma semana que aconteceu o assalto cinematográfico ao carro-forte no aeroporto de Caxias do Sul. A perda irreparável da vida do sargento Fabiano Oliveira, de 47 anos, integrante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), comoveu a região. Estamos todos ao lado de sua família, colegas e amigos enlutados tentando entender como esse nível de violência chegou à nossa porta.
À medida que detalhes sobre as investigações vão chegando a público, revelam-se os tentáculos de uma organização criminosa de muito poder que provavelmente tenha conexões internacionais. Em matéria publicada no Pioneiro, há a seguinte informação: “Com armamento de guerra, incluindo um fuzil Barrett M82 calibre .50, e fardamento falso, os assaltantes usaram veículos com adesivos da Polícia Federal (PF) para acessar o hangar do aeroporto”. Esse tipo de equipamento não se compra ali na esquina, não é coisa de ladrão de galinha e bandidinho pé-de-chinelo: é coisa de gente muito bem preparada, com um setor de inteligência próprio. Ter a posse de um fuzil desses e tantas informações precisas não é para qualquer tipo de marginal.
Na verdade, essa ação criminosa parece algo que só aconteceria em São Paulo ou em grandes metrópoles, mas cá estamos com nosso aeroporto Hugo Cantergiani crivado de balas às vésperas de começar a receber voos internacionais. É tudo tão imenso e tão contraditório quanto o Brasil em si. E reforça a ideia de que Caxias, para o bem e para o mal, realmente parece uma mini São Paulo.
Muitos anos atrás, tentei explicar para uma colega canadense como era Caxias do Sul. Como ela conhecia São Paulo, fiz a seguinte analogia: “Caxias é parecida com São Paulo na parte boa, só que numa escala menor e sem a parte ruim”. Eu me referia à questão da industrialização, do comércio pujante, do desenvolvimento a partir da agricultura (São Paulo com o café, nós com a uva e o vinho), a existência de boas escolas e faculdades, pleno emprego, uma cultura e uma ética marcadas pelo trabalho e pelo progresso. Naquela época, mazelas como a poluição, a violência desmedida, o crime organizado, o acúmulo de lixo e sujeira pelas ruas, o trânsito caótico e os zumbis da cracolândia não pareciam fazer parte do nosso dia a dia. Infelizmente, já não podemos ter tanta certeza disso.
A forma com que os assaltantes atacaram o aeroporto com tanta audácia é um exemplo de que temos a obrigação de pensar nos nossos pontos fracos e vulneráveis. Em outubro temos eleições municipais. Esta é uma reflexão que precisa estar na pauta (e nos palanques) dos candidatos à prefeitura e à Câmara de Vereadores: como manter o crescimento e o desenvolvimento de Caxias do Sul sem importar os graves problemas que outras cidades grandes enfrentam hoje? Essas organizações, ao que parece, vieram para ficar. E agora? Tudo isso precisa ser levado em conta no projeto de cidade que cada candidato e cada partido vão apresentar quando a campanha começar.