Há algumas habilidades que eu, sinceramente, acredito ser praticamente impossíveis de se aprender num cursinho ou numa faculdade. Liderança é uma delas. O que talvez possa ser feito é lapidar algumas características que já fazem parte de uma pessoa, ou seja, traços de personalidade e de caráter que se bem trabalhados podem criar um grande líder. E, cá entre nós, personalidade e caráter não são exatamente coisas que se aprendem na fase adulta.
Estou participando de uma formação sobre Gestão de Pessoas, e logo no primeiro encontro o assunto foi justamente este: qual o perfil ideal de um líder. Antes de passar para o estudo dos tipos de lideranças que existem dentro de uma organização ou de uma empresa (autocrática, democrático, transacional, etc.), os participantes citaram algumas características do líder ideal. Os chavões de sempre começaram a aparecer: “inspirador”, “motivador”, “humano”. Contudo, isso não é suficiente.
Conheço inúmeros casos de pessoas que se apresentaram como líderes e assim foram aceitos só porque tinham um discurso bem bonitinho, talvez fruto de horas e horas de leituras daqueles livros de autoajuda corporativos que sempre vemos na lista de mais vendidos ou de palestras motivacionais com o guru da moda. Mas esses indivíduos, na hora que o momento exigiu uma real postura de líder, se apequenaram e não fizeram jus ao posto para o qual se habilitaram.
A meu ver, o líder ideal é aquele que assume as broncas, digamos assim. Ao final do dia, quando tudo dá certo, é muito fácil se colocar no topo do pódio para receber as congratulações (ou, pior, ficar se auto congratulando pateticamente). No entanto, quando tudo dá errado, quando há uma crise econômica que nos assombra, quando há uma pandemia que nos enche de medo e incerteza, quando há conflitos e decisões duras precisam ser tomadas, um líder tem que ser, acima de tudo, alguém despido de vaidades e envolto de responsabilidade. Líder mesmo é quem está lá para proteger sua equipe e ampará-la, não com palavrinhas bonitas, mas com ações e atitudes coerentes.
Além disso, ser líder também é cobrar e exigir, é quem tem aquele tipo de franqueza que infelizmente soa como grosseria em certos ambientes porque vivemos numa sociedade absolutamente hipócrita. Nessa era de positividade tóxica, não se valoriza devidamente quem ousa dizer as verdades mais duras e apelar para mantermos os pés firmes no mundo real — as fundações de uma construção mais sólida de carreira e de vida.
Em outubro, vamos eleger novos líderes para nossas prefeituras. Muito cuidado com discursinho inspirador e motivador, narrativas marqueteiras e fotos e vídeos cuidadosamente ensaiados e cenografados. Prestem atenção em quem se habilitou ao pleito para ver se é alguém realmente disposto a liderar ou se está ali para cumprir tabela e se manter em evidência lutando por uma causa: a dele próprio, não a do povo.