As tratativas sobre o uso da área do Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul (UCS) para a instalação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na região passam pela venda do local. Este deve ser um dos temas centrais do encontro entre a reitora eleita da UFRGS, Márcia Barbosa, e lideranças da Serra nesta segunda-feira (9).
Embora essa modalidade de negócio já fosse especulada, o reitor da instituição caxiense, Gelson Leonardo Rech, pela primeira vez confirma este detalhe. Segundo ele, a intenção de vender já estava sinalizada na proposta de negociação apresentada ainda em 27 de junho, quando uma audiência pública tratou da instalação de um campus de ensino superior público na região.
— É exatamente isso. Vou receber a reitora lá no Campus 8, para ela conhecer e a gente conversar sobre a nossa proposta. E, de fato, é uma proposta de venda do Campus 8. Nós nunca conversamos sobre comodato ou aluguel. A nossa proposta, e que entregamos por escrito, sempre foi de venda, inclusive com valores — confirma Rech.
Ele preferiu não citar os valores envolvidos, mas indica que as conversas têm evoluído desde o momento em que a proposta foi formalizada, tanto que já aconteceram dois contatos telefônicos com Márcia. Gelson ressalta que a negociação tem um caráter estratégico, pois garantiria a preservação da estrutura e o uso dela para fins educacionais, facilitaria o processo de instalação da UFRGS e ainda serviria qualificar a estrutura restante da UCS.
— Nós estamos nos desfazendo daquele imóvel porque não o ocuparemos mais, e a melhor opção hoje é a venda. Nós queremos investir bastante em nossos laboratórios e na colocação de condicionadores de ar em toda a instituição, aperfeiçoando a estrutura e qualificando tudo, e nesse sentido esse recurso viria muito bem — aponta o reitor.
A cientista Márcia Barbosa foi eleita reitora da UFRGS em julho, e a posse ocorre no próximo dia 21. Caberá à gestão dela conduzir o processo de instalação de um campus da universidade federal na Serra, medida anunciada pelo ministro da Educação, Camilo Santana, em 10 de junho. A implantação do ensino superior público é uma reivindicação histórica da região, e a promessa do governo federal é que os primeiros cursos já sejam oferecidos em 2025.
Além de visitar o Campus 8 e se reunir com o reitor da UCS, Márcia também terá encontros nesta segunda-feira com a coordenadora da 4ª CRE, Viviani Devalle, com a secretária da Educação de Caxias do Sul, Flávia Vergani, e com o Fórum de Entidades que trata do tema universidade pública na Serra.
Prédio tem histórico voltado à educação
A construção da estrutura que hoje recebe o Campus 8 da UCS iniciou na década de 1950. Na época, a área pertencia à congregação das Irmãs Missionárias do Sagrado Coração de Jesus, que decidiram instalar ali uma escola. O prédio principal, com características arquitetônicas que remetem ao Modernismo, foi concluído em fevereiro de 1962, e além do bloco principal também é composto por um auditório e uma capela.
Entre 1962 e 1971 funcionou no local o Colégio Santa Francisca Xavier Cabrini, um internato para meninas, administrado pelas irmãs. A estrutura ficou com a congregação até 1974, e na sequência foi vendida para a Cabrini Estruturas Metálicas, empresa do ramo metalúrgico. O prédio principal passou a sediar o setor administrativo, e um galpão construído nos fundos era usado como fábrica.
Após a empresa se mudar do local, o que ocorreu no início da década de 1980, o espaço ficou sem uso. Em 1994, por iniciativa do então reitor Ruy Pauletti, a universidade começou as tratativas para adquirir o imóvel, e a negociação foi fechada no ano seguinte. Em 1996 a estrutura foi reinaugurada como Campus 8 da UCS, e desde então abrigou o ensino voltado às áreas de artes e arquitetura. Em junho passado, os cerca de 700 alunos dos sete cursos ali sediados foram oficialmente informados de que serão transferidos para o campus-sede no primeiro semestre de 2025.
Localizado às margens da RS-122, no bairro Samuara, o terreno tem uma extensão de 12 hectares, e há 12 mil metros quadrados de área construída. Em 2012, pela importância histórica e arquitetônica, o prédio foi tombado pelo município de Caxias do Sul, garantindo a preservação de suas características originais