Um espaço com essência educativa. Essa é a descrição que Doris Baldissera, diretora da Área do Conhecimento de Artes e Arquitetura, faz sobre a estrutura que, atualmente, abriga o Campus 8 da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Depois de 28 anos de história compartilhada entre prédio e instituição, professores e alunos se prepararam para deixar o local.
Em 26 de junho, a UCS confirmou o encerramento das atividades no Campus 8 para o final de 2024. A partir do próximo ano, as aulas que atualmente acontecem no bairro Samuara serão remanejadas para o campus-sede. Apesar de planejada, a mudança resgata a conexão da universidade com a região através da cultura e do ensino.
— Mais do que um espaço acadêmico, esse local é ambiente cultural, ocupado pela comunidade. Nestes anos foram inúmeras exposições com trabalhos dos alunos e artistas de renome nacional e internacional. Maratonas de moda que sempre estiveram lotadas. Festivais de teatro que foram sucesso. Além dos cursos de extensão ofertados que atraem pessoas de toda a região. O Campus 8 é vida — opina Doris.
Na coordenação do espaço praticamente desde o início das atividades, Doris observou como a estrutura da antiga Escola Cabrini foi transformada pelo contexto universitário. A biblioteca do local, construída em 1999, partiu de um projeto concebido por estudantes. Décadas depois, em 2012, foram os alunos que também fizeram o estudo que culminou no tombamento do prédio como Patrimônio Histórico Municipal.
Entre corredores e salas de aula, são nítidos os sinais da intervenção dos alunos, ressignificando o ambiente. Grafites e desenhos sobrepostos pelas paredes coexistem com as peculiaridades do estilo moderno, características da década de 1950, quando o prédio foi construído.
— Eu acho que esse lugar nasceu para isso, foi concebido para ser uma escola. Pode até ter potencial para outras atividades, pela localização, mas tem essência de escola — diz Doris.
Os detalhes da memória afetiva
Quando chegou no hall de entrada do Campus 8 e viu o pôr do sol, o arquiteto Pedro Augusto Alves de Inda teve certeza de que queria trabalhar naquele lugar. Em 2003, ingressou na UCS como professor do curso de Arquitetura e Urbanismo. Nos 20 anos acompanhando o desenvolvimento da graduação, o momento mais marcante para Inda foi uma oficina realizada na semana acadêmica de 2006, após o retorno dos alunos vindos da Argentina.
— Eles fizeram um evento aqui, construíram o palco e ensaiaram um show, tudo para contar a história desta viagem. Depois saiu até um DVD com esse show. Foi um momento que deixou marcas no curso. Mas, com certeza, o que mais vou sentir falta é do pôr do sol — revela.
Aluna da UCS e agora coordenadora do curso de Design, Ana Valquíria Prudencio tem com o Campus 8 uma relação de carinho. Isso porque a estrutura do lugar também tem traços do seu trabalho:
— Meu momento mais marcante foi quando conseguimos transformar o Design Center. Aquela sala foi modificada através do olhar dos alunos, que colocaram ali suas ideias para fazer desse ambiente mais intuitivo, mais humanitário para trabalhar. Acho que é a nossa participação enquanto curso. Para mim, o Campus 8 é pertencimento, e isso com certeza vai fazer falta.
O campus de gerações
Desde 1996, quando o Campus 8 foi inaugurado, sete cursos se estabeleceram no local: Arquitetura e Urbanismo, Design, Design de Interiores, Artes Visuais, Música, Moda e Dança. Nesse período de 28 anos, se formaram 2.642 acadêmicos, distribuídos entre as graduações do espaço.
Agora, a última turma de estudantes de Arquitetura e Urbanismo que estudou no Campus 8 se prepara para deixar o espaço de forma simbólica.
— A missa da formatura acontece na primeira semana de fevereiro. Conversando com os demais colegas, tivemos a ideia de realizar esse momento na capela do campus. A proposta surgiu antes de sabermos da mudança, mas como somos os últimos arquitetos a estudar no Campus 8, se tornou um momento ainda mais especial. Queremos valorizar o patrimônio da UCS, um espaço belíssimo que talvez poucos tenham tido a oportunidade de conhecer — explica Alessandro Debiasi, formando.
O grupo já contatou a direção do campus, que avalia a possibilidade de celebrar a cerimônia no local.
Transferência planejada
Segundo a diretora do Campus 8, professora Doris Baldissera, a transferência das atividades para o campus-sede estava em debate desde o retorno das aulas presenciais, no pós-pandemia. Apesar da localização estratégica do campus, problemas no deslocamento dos alunos de Caxias do Sul fizeram com que a gestão universitária revisse o espaço.
— Há relatos de estudantes que demoram até duas horas para chegar aqui, por conta do trânsito. É muito prático para quem vem de outras cidades, como Farroupilha, Bento Gonçalves, Garibaldi. Mas sabemos que os ônibus que deixam os alunos aqui, também passam pelo campus-sede.
Outro ponto avaliado pela gestão é a integração dos cursos centralizados no Campus 8 com as demais graduações, sobretudo com os cursos de Comunicação. Para Doris, a inserção dos estudantes do polo da Arte e Arquitetura na cidade universitária trará benefícios mútuos.
— Nossos alunos são muito dedicados e criativos. Esse potencial poderá ser explorado por eles neste ambiente maior em oficinas, projetos que também contarão com a participação dos estudantes de outras áreas — diz Doris.
Conforme a professora, a UCS já prepara um espaço no campus-sede para abrigar os sete cursos do Campus 8. Adequações para receber e alocar as salas de aula e espaços específicos de cada área estão em andamento. A universidade deverá detalhar o novo projeto em alguns meses.