A Universidade de Caxias do Sul (UCS), por meio do reitor Gelson Leonardo Rech, não tem nenhuma contrariedade à implantação da UFRGS na Serra. Mais do que isso, segundo ele, inclusive é desejável que a instituição caxiense participe do debate sobre a instalação, pois além de uma parceria histórica entre as instituições, há um reconhecimento da importância que a abertura do novo campus teria para acesso à educação na região.
A manifestação foi feita por meio de uma nota e de uma rápida conversa com a coluna. O posicionamento da UCS era um dos mais aguardados desde que o governo federal anunciou, há duas semanas, a instalação da UFRGS na Serra e vem na semana em que os planos devem começar a ficar mais claros, já que a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul sedia uma audiência pública sobre o tema, na próxima quinta-feira (27).
Procurado para falar sobre o tema, Gelson inicialmente fez uma nota, que está publicada abaixo, colocando o posicionamento geral. O documento não traz nenhuma objeção à instalação da universidade federal e reconhece a importância para a população. No entanto, defende o fortalecimento das instituições comunitárias e pede que patrimônio material e imaterial da UCS seja preservado e melhorado. Além disso, afirma que seria desejável a participação da instituição no debate sobre a implantação do novo campus.
Após o envio da nota, em entrevista à coluna, alguns pontos extras foram aprofundados. Gelson ressaltou a necessidade de regulamentação da lei que trata das universidades comunitárias, o que poderia trazer novos recursos para estas instituições, e que a mobilização da comunidade também deveria abranger esta pauta.
Quanto à possibilidade de a instalação da UFRGS significar um aumento da concorrência no mercado de ensino superior na região, Gelson é cauteloso. Ele defende que um bom debate prévio, inclusive com a participação da UCS, pode ajustar esta questão.
— A ideia é que, pela proximidade como instituições, a gente possa entender qual é a proposta e somar energias. A UFRGS pode se apresentar e mostrar qual o planejamento e nós pensarmos coletivamente essa região. Quais cursos? Eu posso informar, inclusive, que alguns já não são atrativos, por exemplo. Ou eles têm alguns cursos que, depois, os alunos podem seguir com os mestrados que nós temos. Nós temos que pensar a região e pensar de uma forma muito responsável o uso do dinheiro — entende o reitor.
Gelson também abriu a possibilidade de debater um compartilhamento de estruturas entre as instituições:
— Nós temos um patrimônio aqui, durante o dia, com bastante sobra de espaços. Nós podemos (compartilhar estruturas), mas isso tem que ser levado ao nosso Conselho Diretor, pois essa questão patrimonial é bem delicada. A primeira questão é a discussão do que é necessário em Caxias e região, mas pode passar, sim, por eventual uso de alguma instalação de nossos laboratórios. Mas que temos que ser demandados para isso, e deveremos depois passar pelo nosso Conselho Diretor para ver a possibilidade real de se efetivar isso.
Confira a nota enviada pelo reitor da UCS sobre o tema:
"Desde sua criação há 57 anos, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) desenvolve sua missão de desenvolvimento regional conectada com diversas instituições nacionais e internacionais. Possui 130 acordos internacionais com universidades renomadas e pauta suas atividades de pesquisa, inovação, ensino, extensão e prestação de serviços tecnológicos em estreita relação com as demandas sociais e com o setor empresarial. A UCS mantém diversos convênios e acordos inclusive com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vale lembrar a Aliança pela Inovação celebrada em 2022, diversas pesquisas e programas de mestrado e doutorado realizados em parceria e prestação de serviço laboratoriais, entre outros.
Na história da busca pelo ensino superior para Caxias do Sul e região é importante destacar que quando o Estado não conseguiu prover a região na década de 1960, as mãos da comunidade criaram sua universidade dentro de um modelo equilibrado: de direto privado, mas ao mesmo tempo pública não estatal, o que ficou consagrado pela legislação posterior como Universidade Comunitária. Hoje temos no Brasil três modelos: as universidades públicas, as privadas com fins lucrativos e as comunitárias, sem fins lucrativos.
Como educador focado em transformar o mundo num lugar melhor para vivermos, por meio da educação, acolho e valorizo as novas oportunidades de acesso ao Ensino Superior, representadas, neste caso pela abertura do Campus da UFRGS.
Ao mesmo tempo que muitos se ocupam com o debate sobre a importância e viabilidade da implementação do campus da UFRGS, parece importante, também, refletirmos sobre o patrimônio material e imaterial da UCS construído pela comunidade caxiense e regional, para que seja preservado e melhorado. É mister entendermos o sentido profundo da universidade comunitária que cumpre um papel histórico - e permanecerá cumprindo - de acesso a milhares de estudantes perfazendo uma marca de 127 mil pessoas formadas até o momento. É fundamental buscarmos com vigor a regulamentação da Lei da Comunitárias (Lei 12.881 de 2013), o que permitirá mais acesso dos estudantes e recursos federais a todas as instituições de ensino comunitárias.
O Consórcio das Universidades Comunitárias do Rio Grande do Sul, do qual a UCS faz parte entre as 14 universidades, tem lembrado por várias vezes ao governo federal este compromisso da regulamentação da Lei das Comunitárias, bem como tem se colocado como parceira do poder público para projetos de desenvolvimento regional e nacional. Vale lembrar que no ano passado os reitores das 14 universidades comunitárias de Santa Catarina e os 14 do Rio Grande do Sul foram à Brasília formalizar o pedido de regulamentação e reafirmar seu compromisso social e de desenvolvimento científico e tecnológico com o Brasil e suas comunidades locais.
Replanejar é necessário, com certeza. Mas a UCS seguirá sua trajetória de excelência com entregas para além do ensino de graduação e pode participar da interlocução da implantação do campus da UFRGS (é desejável), pois os interesses científicos e formativos das instituições universitárias públicas e das instituições comunitárias estão mais próximos do que os interesses das instituições de ensino privadas com fins lucrativos. Não há projeto de desenvolvimento sem projetos sérios de educação."