Em tempos de recuperação da destruição causada pela enchente de maio, o jornalista André Fiedler trouxe uma bela contribuição ao debate. Você pode conferir aqui em GZH a entrevista com Bruno Susin, professor de Engenharia Civil da Universidade de Caxias do Sul (UCS) com atuação na área de geologia aplicada à engenharia. Recomendo a leitura.
A conversa traz um elemento que tenho defendido neste momento, que é a necessidade de pensar além da reconstrução e projetar um trabalho mais caprichado e mais cuidadoso, principalmente em relação às estradas. E isso precisa ser feito com a visão de que colocar dinheiro em ações preventivas é investimento, pois evita retrabalho e faz com que não se gaste ainda mais dinheiro para remediar problemas futuros.
Me reconforta ver que pensar isso não é delírio ou utopia de um palpiteiro, como é o meu caso. O fato é que alguém da área, um técnico qualificado, está dizendo isso. Um dos trechos que mais me chamou a atenção explica de forma tão didática e simples que deveria ser leitura obrigatória para atuais e futuros ocupantes de cargos públicos:
— O maior custo da engenharia civil está na operação. O que que é mais barato? Eu ficar todo ano indo recolher as pedras que caem do talude, fico 10 anos fazendo isso e vou gastar R$ 1 milhão, ou hoje eu pego esse R$ 1 milhão, projeto e executo uma contenção ali para não cair mais pedra? A questão é justamente trabalhar essa nossa cultura de que a infraestrutura é uma despesa, um custo. A infraestrutura é um investimento. E um investimento mal feito às vezes é pior do que não investir nada.
Tão lógico e tão óbvio, que surpreende que seja feito de forma contrária. E o pior é que estamos cheios de exemplos contrários, inclusive na região. Outro ponto citado por Bruno Susin é uma visível diminuição do rigor técnico para a execução de algumas obras, especialmente em reconstruções emergenciais.
— Existe um "fazejamento", principalmente nessas situações de crise, de acidente, de perda catastrófica. O cara vai lá e refaz a estrada de qualquer jeito, é isso que não pode acontecer — aponta o professor.
Quando li isso lembrei de um caso que já citei aqui na coluna, que foi a construção e desmanche, em cinco anos, da rótula para entrada em Forqueta, que acabou sendo pouco usada pela comunidade. Foram R$ 600 mil jogados no lixo, que podiam ter sido usados de forma muito mais útil. Infelizmente, uma rápida pesquisa na memória e no noticiário vai achar outros exemplos.
A chuva que tivemos foi, sem dúvida, anormal e fora dos padrões, mas é preciso lembrar que as rodovias da região têm histórico de problemas mesmo com precipitações menores. Nos últimos anos houve diversos momentos em que a BR-116, para pegar somente um exemplo, fechou devido a deslizamentos, o que prova que não dá para colocar a culpa somente na catástrofe recente. Há tempos temos déficit de planejamento e prevenção, e falta de dinheiro não é justificativa, pois os prejuízos causados pelas paralisações de vias e os custos dos remendos são imensos.
Por isso a importância de um alerta como o trazido por essa entrevista, em um momento tão decisivo. Que tal, além de consertar o básico, corrigir problemas históricos das rodovias, refazendo com novas técnicas trechos onde se sabe que vamos ter problemas no futuro? Por mais estranha que possa parecer a pergunta, ela se impõe: que tal fazer do jeito certo? Está na hora.