A notícia de que está sendo fechada a rótula construída na RS-122, próximo ao posto do Comando Rodoviário da Brigada Militar, em Farroupilha, é o capítulo final de mais uma história de desperdício de dinheiro público. Mais de R$ 600 mil foram literalmente “enterrados” no local, sem trazer nenhum benefício para a comunidade, que agora tem que recomeçar o processo de pressão por alguma solução.
Tudo começou quando a comunidade de Forqueta, em Caxias do Sul, percebeu que o acesso ao bairro estava totalmente defasado, e que precisava de reformulação. Depois de muita reivindicação e algumas análises, veio a ideia de construção de uma rótula algumas centenas de metros depois, no espaço da antiga praça de pedágio, onde os veículos poderiam fazer o retorno com mais calma, entrando em Forqueta de forma mais ordenada.
Tudo aparentemente estava certo, e a obra foi autorizada pelo Daer. Após mais de um ano de trabalhos lentos, o novo acesso foi entregue em 2019, mas não era usado pelos motoristas. O motivo era um tanto óbvio: por mais que teoricamente a rótula fosse segura e moderna, muitas vezes ainda era mais prático usar o antigo caminho.
A solução lógica era, por segurança e para justificar o investimento, fechar o velho acesso. Mas isso não era possível por uma questão legal, já que os ônibus do transporte coletivo não poderiam cruzar, mesmo que por alguns metros, o território de Farroupilha, onde estava a nova rótula. Ninguém se deu conta disso antes? E será que não era possível, legalmente, aprovar alguma exceção à lei, autorizando um novo roteiro especificamente para os coletivos que iam a Forqueta?
Nada disso foi feito, e o tempo foi passando sem que a rótula se consolidasse. Estreitamentos de pista feitos pela BM em muitas ocasiões deixavam o trânsito lento no local, pois também se constatou que o desenho da pista no local poderia colocar o próprio posto do Comando Rodoviário em risco. Um erro tão básico de projeto, que é difícil de acreditar.
Ao assumir o controle da rodovia, a Concessionária da Serra Gaúcha (CSG), por pragmatismo e obrigações contratuais, decidiu eliminar a rótula, já que era pouco usada, trancava o trânsito e ainda trazia riscos. Assim, menos de cinco anos após a conclusão, está desfeita uma obra que custou R$ 600 mil aos raspados cofres do RS. Difícil imaginar uma forma tão ágil para rasgar dinheiro público.
O pior é que, pelo histórico, vai ficar tudo por isso mesmo. Coisa semelhante aconteceu no projeto da alça ligando a RS-122 e a RS-453, na Zona Norte de Caxias, onde logo após a inauguração notou-se que ela não dava vazão à passagem de caminhões pelo trajeto, e muitos deles chegaram a ficar “entalados” na via. Tudo isso nos leva à conclusão de que até pode estar faltando dinheiro, mas também há grande carência de cuidado e capacidade técnica para pensar um pouco melhor as obras rodoviárias no RS.