Quando a gigantesca destruição causada pela enchente de maio começou a ficar clara, surgiram as primeiras especulações sobre a possibilidade de que projetos pensados para o RS pudessem ser adiados. O argumento era de que, diante da catástrofe, todo o dinheiro disponível deveria ser destinado ao atendimento às pessoas e à reconstrução do que tinha sido perdido. A ideia tem lógica, mas além da urgência de diversas situações trazidas pelo momento, é preciso pensar a reconstrução de forma mais ampla.
E é aí que entra a manutenção do projeto do Aeroporto Regional da Serra Gaúcha, em Vila Oliva. Nos bastidores chegou a se comentar a possibilidade de postergar essa obra, mas fatores financeiros e estratégicos apontam para a continuidade. E digo mais: em vez de ser motivo para adiar, a enchente serviu de alerta para que esta construção seja acelerada.
A notícia trazida pelo repórter André Fiedler, de que o projeto passou do Ministério de Portos e Aeroportos para a Casa Civil, é um bom presságio. Ela sinaliza que a proposta não está parada e segue tramitando dentro dos órgãos do governo Federal. Além disso, mostra que foram atendidos os critérios técnicos básicos, já se encaminhando para o órgão que tem a função de autorizar o início dos trabalhos, e a consequente liberação de verbas.
Por falar em dinheiro, é importante explicar que os valores que serão aportados em Vila Oliva não impactarão em outras obras de recuperação do RS. Como é uma verba originária do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac), ela tem fim específico. Ou seja, administrativamente, esse dinheiro não pode ser utilizado em outras frentes, não concorrendo com as dezenas de necessidades que existem hoje no estado.
Outra questão que a enchente desnudou foi o quanto é insuficiente a infraestrutura de transportes gaúcha, inclusive a aérea. Por mais que a chuva tenha sido um evento histórico e fora do normal, não é admissível que todo um Estado fique à mercê de contratempos e tenha apenas um equipamento aeroportuário com as mínimas condições de receber um movimento razoável de passageiros. Ter uma alternativa ao Salgado Filho é algo que se tornou óbvio, e se já existisse, estaria facilitando muito a retomada da vida da população.
E esta alternativa, obviamente, não é o Aeroporto Hugo Cantergiani. Ele vai fazer o que pode neste momento e precisa receber algumas melhorias para “segurar as pontas” nesta hora de dificuldade. Mas a necessidade maior de uso que surgiu agora só serviu para ressaltar as limitações deste equipamento, e o fato de o próprio ministro dos Transportes ter sido “vítima” da falta de condições do terminal, sem que o voo dele tenha conseguido pousar aqui nesta segunda-feira (04), só ilustra a situação.
Por todos esses motivos (financeiros, técnicos, políticos e práticos) expostos, as lideranças de Caxias e região precisam aproveitar o momento e fazer com que essa obra definitivamente comece. Dentre as dezenas de necessidades de reconstrução que o RS tem a partir da catástrofe de maio, não tenho dúvida de que o Aeroporto Regional da Serra Gaúcha se enquadra, mais do que nunca, como um projeto importante e estratégico para a recuperação da infraestrutura gaúcha.