Na semana passada, o repórter Pedro Zanrosso fez um interessante trabalho na Gaúcha Serra, GZH e Pioneiro. De segunda a sexta, ele foi cedinho a pontos conflagrados do trânsito de Caxias do Sul e conferiu nestes locais as dificuldades enfrentadas no dia a dia pelos motoristas, especialmente nos horários de pico, além de ouvir o que as pessoas tinham a dizer sobre o tema.
Não que não se soubesse de que esses problemas já existem há anos. Mas observá-los no local e ouvir os relatos das pessoas leva a uma conclusão óbvia: a falta de planejamento no crescimento da cidade é a grande causa dos problemas. E aí é preciso buscar aprendizado, para não repetir os erros, ou corrigir o que ainda é possível.
Áreas cada vez mais distantes do Centro receberam, por décadas, grande número de novos habitantes. No entanto, a estrutura para escoamento do trânsito continuou sendo, em muitos casos, a mesma de quando somente existiam propriedades rurais naquelas regiões.
Conheci um dos locais visitados pelo Pedro, o entroncamento da Av. Bom Pastor com a Dr. Assis Mariani e a Júlio Calegari, ainda na década de 1980. A minha avó morava no São Caetano, e me lembro de passar por aquele caminho em muitos domingos. Era uma viagem ao interior, pois o calçamento terminava mais ou menos ali onde hoje é a UBS Bom Pastor. Depois, só estrada de chão e propriedades com cavalos e vacas pelo caminho, até chegar ao então pequeno núcleo urbano do bairro.
Isso já faz uns 40 anos, e era normal imaginar que a cidade fosse crescer muito neste período. O anormal é notar que, mesmo passado tanto tempo e com tantas mudanças, a via de acesso seja exatamente o mesmo caminho bucólico da minha infância. A estrada foi asfaltada e alargada, ressalte-se, mas o fato é que se criou no São Caetano praticamente uma cidade, sem que outra opção para o trânsito fosse projetada.
E em todos os outros pontos visitados (Nossa Senhora da Saúde, Cruzeiro, Desvio Rizzo, Bela Vista e Serrano/Ana Rech) o quadro é semelhante. As pessoas foram morar nesses locais sem que os administradores do município pensassem em criar mais acessos, demonstrando uma falta de pensamento de futuro e sobre como fazer com que a área urbana cresça de forma ordenada, oferecendo alternativas de deslocamento. O resultado é visto todos os dias, com carros demais para ruas de menos, trancando o trânsito e gerando perda de tempo e dinheiro, além de afetar diretamente a qualidade de vida das pessoas.
Embora em ritmo menor que no passado, o Censo 2022 mostrou que Caxias ainda é a cidade onde a população mais cresce no RS. Por isso, a hora de pensar a infraestrutura dos novos locais de habitação é agora. Corrigir situações já estabelecidas custa muito caro, e na maioria dos pontos visitados, por causa da grande urbanização atual, qualquer melhoria hoje depende de obras caras, como viadutos, ou desapropriações de muitos espaços.
Esses gastos podem ser muito menores se forem pensados antes, quando os bairros ainda estão nascendo, e a situação atual nos alerta para não repetir os mesmos erros. Ainda há tempo.