Adriana Antunes
Há dias de puro cansaço. E é apenas março. Mas parece que já faz um ano que o ano começou. Sensação já bem conhecida. Presumo que estejamos (re)vivendo essa sensação desde de 2020, quando começamos a enfrentar a pandemia. Mas será apenas isso? Penso que a resposta seja bem mais complexa. Há um cansaço do tempo que vivemos, mas também do espaço. Há um cansaço de ver se repetir a vida. E entra ano e sai ano e parece que não vivemos de verdade. Sempre correndo atrás da máquina, buscando condições melhores de vida, pagando impostos, contas e esperando o fim de semana para descansar. Mas no fim de semana temos de organizar nossa semana. Daí a sensação de um looping eterno. Talvez estejamos cansados disso, também. Dessa roda de samsara em que nos metemos. Sim, para além das exigências do dia a dia, somos responsáveis pela vida que levamos. Manobramos nossa existência como se fosse um grande navio a atravessar o oceano. Fazemos força. Puxamos nossa embarcação para o lado que achamos melhor. Pesquisamos nosso mapa de navegação. Retraçamos a trajetória. Levantamos âncora. Baixamos âncora. Levantamos outra vez. Há dias de calmaria e há dia de pura tempestade. E há dias que realmente parece que vamos naufragar.
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