Cansaço. Eis a palavra que mais tenho escutado. E que também sinto. Um cansaço de corpo e alma. Cansaço de tudo. A vida não é só trabalho e desempenho. E, apesar de compreendermos isso, parte de nós se vê tentando ser produtivo o tempo todo. Como se o fato de não fazermos algo, de termos nos aposentado, de ter decidido que iria ter uma vida mais calma, causasse uma certa culpa. Nestas horas sempre lembro do meu avô materno, seu Fortunato, que brincava dizendo que quando se estava descansando era preciso carregar pedras. Uma alegoria tomada do tempo do escravos, diga-se de passagem, que nos “dias de folga” faziam as taipas. Ou então aquela outra máxima popular de que cabeça vazia é a casa do diabo. Claro que não é somente isso, há toda uma cultura colonizadora de que só se prospera se muito se labutar. E o trabalho aqui entendido dentro do âmbito de produção material, ou seja, é preciso que o outro veja o quanto sou útil, ganho dinheiro e consumo.
Tem uma frase de Walter Benjamin que me acompanha, “aquilo que chamamos progresso é essa tempestade”. Somos cada vez mais seres de ação. Nossa história é a do agir. E não é para ter orgulho disso, pelo contrário, isso faz de nós mais robôs que os robôs. A catástrofe, o colapso, as doenças mentais e físicas associadas à imensa carga de trabalho e responsabilidades que assumimos, não é a irrupção de um acontecimento inesperado, que nos toma de surpresa. Não. É a continuidade do seguir-sempre-assim, fazendo sempre as mesmas coisas, agindo sempre igual, repetindo continuamente os mesmos gestos. É isso que nos mata, seja real ou simbolicamente.
Daí o corpo adoece. A doença é uma pausa. É a constatação de que não somos máquinas. Sentimos dor, cansaço e precisamos de um tempo sem fazer nada, nem pensar em nada, para nos recompormos. Nenhuma máquina precisa deste tipo de cuidado. Máquinas apenas ligam e desligam. Nós nos angustiamos, ficamos ansiosos, temos pânico, somos corpo, mente e psique. Ainda bem que nos angustiamos, é sinal de que percebendo que a realidade que construímos e vivemos é enlouquecedora. Há ainda um respiro de lucidez neste corpo que calma por mudança de hábitos.
Mas não fomos educados a não fazer nada. Escuto continuamente de que parece muito estranho não fazer nada. Atitude que gera inclusive vergonha. E aí somos experts em criar estratégias para ocupar nosso tempo livre, nos entupindo de tarefas. É claro que somos filhos do capitalismo. Ele nos vendeu a ideia de que quanto mais capital tivermos mais vida teremos, só que não, pois não somos eternos. Deixar para viver depois que se aposentar, depois que os filhos crescerem, depois que as coisas se ajeitarem é jogar para o futuro a possibilidade de viver, mas no futuro há a morte. O futuro é a representação do fim.
Mais uma vez o fim de ano se aproxima. Quem sabe nos comprometemos conosco mesmos a pensar mais no tipo de vida que temos, nos excessos que cometemos e no quanto estamos perdendo de vida todos os dias.