Será? Por que será que pouco paramos para pensar em alguns assuntos, como se o que é, é o que deveria ser? Quem foi que disse que isso é o correto? Por onde anda nossa capacidade de questionar, perguntar? Mais do que ter curiosidade sobre determinados temas, porque não tiramos um tempo para duvidar daquilo que pensamos, fazemos, sentimos e, por que não, comemos? Já diziam os antigos e também as pesquisas científicas atuais, somos aquilo que comemos. Então, sim, esta é uma crônica sobre comida, mais precisamente sobre vegetarianismo. Eis um dos assuntos mais cabeludos para se discutir. Todo mundo que nunca abriu mão de comer carne, parece ter uma opinião formada sobre o assunto, mesmo aqueles que nunca se permitiram pensar, de fato, sobre o assunto. É provável que você nem chegue ao final deste texto, já que descobriu sobre o que irei falar, mas encare como a possibilidade de apenas se permitir pensar sobre. Segundo dados nacionais, somos 40 milhões de pessoas que não consomem nenhum tipo de carne em nosso país. Somos, praticamente, 20% da população. Um número considerável. E para quem acha que vegetariano come apenas vegetais, está na hora de se atualizar sobre o assunto, deixar o preconceito ou a ignorância de lado e olhar com mais atenção para as prateleiras dos supermercados. E antes que o dedo aponte para o consumo dos multiprocessados, que rende um outro bom texto, é bom reavaliar o próprio modo de se alimentar.
Mas não, esta não é uma crônica que vai dizer que você precisa fazer isto ou aquilo, nada disso. Este é um texto de reflexão, afinal, cada um come o que bem entender. Mas vamos parar um instante e refletir. Por que mandamos uma espécie de animais para os açougues e a outras damos amor? Será que é porque as coisas são assim mesmo, há um tipo de bicho que se pode comer (veja que usei pode e não deve, porque há inúmeras controvérsias sobre o consumo de “proteína”) e outras que são companheiros inseparáveis? É interessante pensarmos o quanto somos incoerentes diante deste fato que cria uma cisão entre a costela de uma vaca e a de um cachorro. Mais interessante ainda, é que é uma incoerência que pouco se investiga e quando se fala, um exército de pessoas se levanta contra. Por que será? Podemos passar minutos diante da prateleira do mercado escolhendo o creme dental, mas pensar sobre o consumo da carne em nossas vidas é da ordem do impensável. Tenho certeza que a maioria das pessoas não gasta tempo algum pensando sobre a vida do animal que virou bife em seu prato, nem porque segue comendo.
Em 2023, 80 bilhões de animais foram mortos no mundo para o consumo humano. Ser vegetariano vai muito além de optar por não comer carne, é uma questão de consciência, inclusive ambiental. Há uma ética neste posicionamento. Sim, é uma filosofia de vida. É um respeito ao outro, independente de quem seja o outro. Sim, ser vegetariano demonstra que há um sistema de crenças em ação. E se falar sobre isso é criar um problema, então temos um problema de falta de ética para discutir.