Observo as bromélias e constato, há um número considerável de pessoas que nega o que está acontecendo com o planeta Terra. Não é coisa de Deus, é coisa do homem. Precisamos começar a nos responsabilizar pelo mal que estamos fazendo ao meio ambiente. Regenerar o planeta envolve cicatrizar a fratura que existe entre as diferentes formas de interpretar a realidade. Achar que este é um problema apenas dos outros é se eximir das próprias ações. Precisamos criar uma nova pele de ideias que sejam capazes de conectar nossa visão de mundo, que ainda permanece estreita e ignorante. Escrevo está crônica acompanhando o que ocorreu em Valência na semana passada, relembrando o que nos acometeu em maio e pensando sobre como fomos pouco educados para viver em natureza.
Precisamos curar a Terra e isso passa, principalmente, pela cura de nós mesmos. Nós infectamos a natureza com nossos dejetos de todos os tipos reproduzindo nosso vazio espiritual e existencial no espaço que habitamos. A sujeira é nossa, sai de nós. É preciso urgente que repensemos o que fazemos com a sujeira que produzimos. Sujeira esta que vai do lixo mal separado, jogado na rua, aos pensamentos, julgamentos e preconceitos. A cura se dá pelo amor. Fico, de fato, impressionada com a capacidade que muitas pessoas têm de rezarem, expressarem sua fé e ao mesmo tempo serem corruptas, maledicentes, traírem, serem racistas, homofóbicas e todo tipo de coisa que já deveria ter sido superado. Portanto, limpar, plantar, cuidar, silenciar-se, é amar a si mesmo, ao próximo e à natureza, sem hierarquia.
Mas o que aconteceu conosco? Não era para estarmos mais evoluídos? A sensação que tenho é que retornamos à Idade Média. Ou será que nunca saímos dela? Estamos cada vez menos comprometidos com a natureza, com os outros e consigo. Cada vez mais alucinados, velozes, competitivos, truculentos e ignorantes. Esta angústia que me invade toda vez que penso no meio ambiente se aproxima da angústia dos filmes de Lars Von Trier, que paralisa, traz medo e adoece. O mesmo medo que mata o outro é a mesma doença com a qual contaminamos a natureza.
A casa precisa ser um lugar de acolhimento. A Terra é nosso lar e ela está nos dizendo que assim não dá mais. Precisamos voltar a habitar uma morada que nos abrigue, mas para isso, precisamos mudar de atitude. Mudar nosso padrão de consumo e isso inclui tudo. Heidegger supunha que o bom uso da tecnologia poderia ser a salvação. Tomara isso não seja somente um sonho. Penso na humildade de São Francisco de Assis, no sentido de semear o bem e propagar o cuidado com a natureza. Penso inclusive em São Francisco de Paula, que era vegetariano e tinha uma enorme compaixão pelos animais. Porque sim, não comer animais é um ato de resistência política e consciência ambiental.
Sobre as bromélias, sua natureza é a da colaboração. Deveríamos ser menos arrogantes e aprender com elas, afinal, fazer as coisas pela nossa cabeça tem demonstrado que deu errado.