O ano, a partir de agora, desmorona rapidamente. As tardes diminuem, as palavras emagrecem e a tinta dos dias escorre sem tempo de secar. Mais dez semanas e será 2025. Começam a ficar para trás as pendências, os esperados breves milagres, as coisas não alcançadas, mas não as contas, essas que poderiam ir embora, insistem em atravessar a virada do ano conosco.
O fato é que envelhecemos cada vez mais rápido. Ando naquela fase em que encontro com amigos e percebo no rosto deles que o tempo tem passado para mim também. O dia do aniversário traz uma idade nova, mas carrega em si todos os anos anteriores. Eis o cansaço que com o passar do tempo, sentimos mais e mais. É preciso inventar um outro tempo antes que ele acabe. Lutamos tanto na adolescência para ganhar um corpo e anos depois, começamos a perdê-lo.
Descobrir-se é um percurso. Somos a nossa própria travessia. E atravessamos os anos, a vida, cada um a seu modo. Uns arrastando correntes de mágoas e memórias tristes, outros negando a dor, alguns plantando flores, outros correndo, cantando, dançando. É preciso integrar e reintegrar o que somos para não nos perdermos de nós mesmos. As marcas do tempo criam registros em nossos rostos, já tão distantes daqueles que fomos, mas partes permanecem e são essas que nos dão um sentimento de continuidade.
Este ano descobri um pequeno problema cardíaco, nada de grave, a médica disse que não morrerei disto. O mais interessante é que descobri escrevendo as crônicas de terça. O título desta poderia ser: foi escrevendo que descobri que meu coração desacelera. Tenho um coração que gosta de pausas. Ao final da escrita, ao me levantar, sofria com uma queda brusca na pressão. A coisa foi ficando constante até que procurar um médico se fez necessário. Não sei se sofria disso aos 20 anos. Sei que nesta idade sofria de outras coisas. Acho que você também.
Aos 20 anos não saber da vida é uma bênção. A vida tinha uma outra textura. Éramos pessoas sujeitas às maravilhas e às frustrações do imprevisível. Era uma época de muitos amigos, contatos, encontros, mas também de uma solidão profunda e de dúvidas tão reais. Sempre há perdas e ganhos. Compreendi que a mudança é a medida da passagem do tempo. Observo o bairro em que moro desde criança e se, aos poucos, os anos alteram nosso corpo, meu bairro também foi se tornando cada vez mais menos bairro. Mudamos.
Lembro de quando tinha 15 anos de como o tempo demorava a passar. Era um tempo de poucas novidades e as preocupações eram tão ingênuas. Não pense que este texto é nostálgico. O passado pertence ao passado, mas é olhando para ele que compreendemos onde estamos hoje.
Apesar do novo ano, aos poucos se aproximar, depois dos 40 é como se dobrássemos o tempo, uma parte sobre a outra. A da frente sobre a detrás. O corpo é nosso companheiro de jornada, é o único que atravessa a vida inteira conosco. É preciso ouvi-lo, pois há um tempo dentro e outro fora. E as pausas não precisam ser de angústia. Que venha 2025.