Às vezes o mundo parece estar fora do lugar. Quantas vezes temos esta sensação. Um certo estranhamento, angústia e ansiedade nascem da tentativa de tentar apaziguar o sentimento. De fato, às vezes, e ainda bem, a vida parece estar fora do lugar. Daí a identificação daquele sentimento de desordem, bagunça. Tudo meio caótico, não é? Então surge o desejo que as coisas pudessem voltar a ser como antes.
Henri Bergson, meu filósofo preferido, diz que nada dura para sempre. Tudo tem um momento luminoso e que, invariavelmente, em algum momento, se apagará. Mas nós temos uma mania de querer fixar as coisas boas e nos livrar o mais rápido possível daquilo que imaginamos não ser tão bom assim. Inútil, porque a duração dos momentos independe de nós. A única coisa que podemos fazer é decidir como iremos atravessar a situação. Pouco importa o que nos acontece.
O que é importante mesmo é como reagimos ao acontecido. Nada no mundo é fixo. Nada dura para sempre. Todas frases óbvias e já ditas tantas e tantas vezes. Então por que, mesmo assim, insistimos em querer voltar ao que passou?
Sigmund Freud vai dizer que isso é um esforço imenso que fazemos para não deixar o infantil de nós mesmos para trás. Uma relutância em crescer. Quando percebemos que a vida está fora do lugar é também possível pensar que a sensação caótica diz respeito ao novo e, assim, desconhecido. Tudo que é novo não tem ainda registro em nós. Leva um tempo para assimilarmos, compreendermos e, finalmente, aceitarmos.
No primeiro momento relutamos. Sofremos. Achamos que o melhor era voltar a ser como era antes, pois neste novo contexto, nem mesmo conseguimos nos reconhecer. Parecemos tão diferente da pessoa que sempre fomos. E às vezes, amigos nos dizem exatamente isso, que estamos diferentes. É claro que é assustador. Nenhuma mudança vem sem antes ter ocorrido uma explosão.
Quantas vezes tivemos de nos reinventar após sermos demitidos ou encerrarmos um casamento ou mesmo perdido uma pessoa querida para a morte? Não há como voltar ao que se era antes, porque nem o antes e nem nós existimos mais da mesma forma.
Bem sei que compreender isso não ameniza a angústia que nos assalta. A teoria, apesar de ser boa e elucidativa, não impede que os fatos aconteçam. A questão é que parte de nós já se acostumou com a coisa de antes. Mesmo que não fosse boa. Mesmo que o emprego fosse opressor, que o relacionamento fosse abusivo, parte de nós parece até sentir saudades.
Fico pensando como a certeza do velho sintoma é muito mais forte do que a angústia do desconhecido. Embora doesse era conhecido, confortável. É impressionante como preferimos doer onde sabemos que doemos ao invés de tentar não doer mais.
Na verdade, somos completamente desconhecidos para nós mesmos. Não somos quem achamos que somos e somos quem nunca imaginaríamos ser. E a sensação de que a vida está fora do lugar pode significar autonomia, capacidade que tanto desejamos, mas precisamos crescer para ter.