Sou apaixonada por música, mas gosto daquelas que não tocam tão frequentemente. Gosto das mais estranhas, de outros lugares, meio esquisitas, talvez. Gosto de escutar a harmonia, a melodia, pensar na letra da canção. Sou neta de uma avó materna apaixonada por música.
Lembro de dona Cecília sempre com o rádio ligado e quando ia visitá-la, ela aumentava o volume da música e me dizia, escuta filha, olha que letra bonita tem esta música. E ficávamos escutando o radinho à pilha. Se surgia uma música mais dançante, arredávamos as cadeiras da cozinha e dançávamos.
Na adolescência ganhei de meu pai um rádio de ondas curtas e foi o melhor presente de Natal desde então. Passava horas sintonizando dials dos cantos do mundo em busca de um som diferente. Uma mania que me acompanha desde então. Neste ponto, talvez eu seja bem nietzschiana, afinal, uma vida sem música seria um erro. Cansativa demais.
No Spotify tenho uma biblioteca delas, mas compartilho aqui uma pasta que gosto demais: Músicas de Cura. Para além da pretensão, separei o título de 20 das quais escuto e se tiveres um tempinho, escuta também.
Deixe a luz entrar, de Paulo Novaes.
Deus me proteja, de Chico César.
Ventos de Netuno, de Pedros, Pedro Altério e Pedro Viáfora.
Todo se transforma, de Jorge Drexler.
Coisa mais bonita, de Carolina Deslandes e António Zambujo.
Terapia, de Baiana System.
Somos instantes, de Caloncho.
Paz interior, de Tiago Nacarato.
Lo que soy, de Tiago Nacarato e Mari Segura.
Minha voz, de Eu me chamo Antônio.
Bentivi, de Avuá, Jota Pê, Bruna Black.
Se não fosse por ontem, de Francisco, el Hombre.
Culpa, de O Terno.
Sonhos lúcidos, de Pitanga em pé de amora.
Pra gente acordar, de Gilsons.
Aqui e agora, de Gilberto Gil.
Amarelo amargo, de Chico Chico.
Minha prece, de Dandara Manoela.
Manifesto, de Vintage Culture e Anamari.
Bons dias, de Deolinda.
Nestes dias tão corridos e cansativos escutar algo bom, nos traz um refresco para o calor da vida. Já somos tão castigados pelo peso das tragédias pessoais, barulho das buzinas, que quase desanimamos. É sim, é pau, é pedra, é o fim do caminho e, o mundo, é um moinho. É a roda viva que nos leva ao chão, mas a gente reclama só pra contrariar. Verdade seja dita.
A vida é bonita demais e faz parte do nosso show. Ah, se o mundo inteiro pudesse me ouvir, eu tenho tanto pra contar. Assim, do radinho à pilha da casa da minha avó aos tocadores midiáticos, aprendi que o ouvido é o que melhor vê, porque não se ouve música apenas com eles.
Há na música uma grafia da duração na qual somos convocados a escutar com o corpo todo. Talvez por isso a música consiga dizer tanto de nós sem que falemos nada.