Adriana Antunes
De minuto em minuto o tempo passa. A vida passa. O dia de ontem já passou. O de hoje está passando e o de amanhã, também. O relógio marca o tempo. Mas não somente. O sorriso, o abraço, o modo como caminhamos e sentimos a vida, marcam da mesma forma. Assim como a fruta madura no pé, o bolo sendo assado, as luas do calendário. Ou ainda, a fotografia do Instagram, do álbum, da festa de ontem, do encontro de 20 anos atrás. A vida corre seu fluxo continuamente. Nem mesmo a morte consegue conter sua força. E talvez, possamos pensar juntos, ainda bem. A cada beijo dado, verso recitado, estrofe cantada, chamada de telefone atendida, bilhete pendurado na geladeira, cuia de chimarrão passada, a vida se encontra com a morte. Tudo pode ser a última vez. Tudo. Não paramos para pensar nisso porque é muito assustador. Podemos ler, estudar, pesquisar e até debater sobre a morte, mas nunca estamos preparados para viver esse momento. Mas de repente ela acontece. E acontece assim, no comecinho da manhã, numa chamada do hospital ou no meio da tarde, ou ainda na madrugada, não importa, o fato é que ela sempre, e essa é a única certeza que temos, acontece. Então nos damos conta de que não somos nós que a cada dia, com o passar do tempo nos aproximamos da morte. Mas sim que ela está próxima de nós o tempo todo.