Um bebê prematuro morreu enquanto esperava por leito de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) neonatal na madrugada de sábado (6) em Frederico Westphalen, no norte gaúcho. A mãe e o recém-nascido estavam no Hospital Divina Providência e esperaram cerca de nove horas pelo encaminhamento, o que não aconteceu.
Anthony de Lima Almeida nasceu às 16h24min de 6 de abril, com 32 semanas de gestação. Por causa de complicações, ele precisava de um leito em UTI neonatal e transferência para outra cidade, uma vez que Frederico Westphalen não oferece esse atendimento. A criança morreu no começo da madrugada antes de conseguir vaga nos hospitais da região.
O pai do bebê registrou a demora em um boletim de ocorrência remetido à Policia Civil, que instaurou um inquérito de urgência para investigar o caso. A mãe, de 22 anos, continua internada em Frederico Westphalen em estado estável.
Questionado, o Hospital Divina Providência informou que solicitou o leito de UTI neonatal junto ao sistema Gerint (Gerenciamento de Internações Hospitalares do RS) assim que a equipe médica analisou as condições de saúde do recém-nascido.
O protocolo da solicitação, cedido à reportagem, mostra que há registro de possibilidade de leito reserva em dois hospitais de Passo Fundo. Em seguida, consta no documento que o médico responsável ligou para as duas instituições por volta das 22h. Ambos responderam que não havia vagas por causa da superlotação. Na sequência, há o registro da morte do recém-nascido às 0h18min.
A reportagem procurou a Secretaria Estadual de Saúde, que informou que todos os pacientes que necessitam de atendimento especializado são regulados conforme avaliação técnica de profissionais de saúde do município de origem e da Central de Regulação. Leia na íntegra:
"A Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS) informa que, em respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a todos os pacientes que aguardam por atendimento e seguem o devido processo técnico de regulação, não pode fornecer dados sobre casos específicos. Pacientes que necessitam de atendimento especializado são regulados conforme avaliação técnica de profissionais de saúde do município de origem e da Central de Regulação. É esta avaliação que determina as prioridades, a situação de saúde e as condições de transporte do paciente, entre outros critérios. Dessa forma, é possível definir o momento adequado e seguro para a realização de procedimentos e transferência de pacientes".
Hospitais-referência estão a 150km de distância
O sistema da SES aponta que Frederico Westphalen tem os hospitais de Passo Fundo e Erechim como referência para atendimentos de UTI neonatal. São mais de 190 quilômetros até Passo Fundo e pelo menos 148km até Erechim, viagens que levam em média duas horas.
A 81km de Frederico Westphalen fica Três Passos, que registrou duas mortes de bebês que esperavam por UTI neonatal em menos de 20 dias no mês de janeiro e também tem Passo Fundo e Erechim como referência para o envio de bebês que demandam atendimento intensivo neonatal. Nesse caso, a distância entre Três Passos e Passo Fundo é de 230km, uma viagem de cerca de três horas.
A distância e falta de unidades de UTI neonatal em regiões do RS fazem com que entidades, como a Associação Pró-UTI Neonatal e Pediátrica do Rio Grande do Sul e o Sindicado Médico do RS (Simers), alertem sobre a necessidade em abrir esses leitos nos hospitais gaúchos.
Conforme o Simers, 130 cidades estão sem pediatras e mais de 30 maternidades foram fechadas nos últimos cinco anos no estado. De 2019 para cá, a redução nas vagas em UTIs neonatais foi de 16%.