A preocupação com o avanço dos casos de dengue no RS alavancou a procura e vendas de repelentes em Passo Fundo. Em uma rede de farmácias, o comércio desses produtos cresceu 200% em fevereiro de 2024 na comparação com o mesmo período do ano passado.
Passo Fundo acompanha uma tendência nacional. Segundo relatório da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) publicado em 15 de fevereiro, as vendas de repelentes e inseticidas cresceu 27% em todo o Brasil. O aumento na procura tem a ver com a preocupação sobre o aumento de casos de dengue, que deram um salto desde o começo do segundo mês do ano.
Em Passo Fundo, são 103 casos confirmados da doença. Há pelo menos 17 mortes registradas em 2024 em todo o RS. A última foi em Santa Rosa, na segunda-feira (11). Há outros casos nos municípios do norte e noroeste gaúcho, como Tenente Portela, Santa Rosa, Cruz Alta, Frederico Westphalen Independência, Giruá, Cerro Largo e Vista Gaúcha.
Para a reportagem, GZH Passo Fundo consultou quatro redes de farmácias da cidade e todas confirmaram um incremento importante na procura e venda do produto. É o caso da Rede de Farmácias São João, que registrou aumento de 200% nas vendas desses produtos em fevereiro na comparação com o mesmo período de 2023.
Em uma das lojas da franquia, localizada na Avenida Brasil, no centro de Passo Fundo, foram 380 repelentes vendidos entre 25 de fevereiro a 5 de março. No ano passado, foram 27 entre esses mesmos dias.
O gerente da unidade, Renato dos Santos, relata que muitas pessoas têm procurado a loja para esclarecer dúvidas sobre qual repelente usar e questionar sobre as diferenças entre os produtos. Além disso, boa parte das vendas desses produtos na loja tem como foco o público infantil.
— Muitos pais querem comprar repelentes infantis e entender mais sobre os produtos, o que antes não acontecia com tanta frequência. A procura era baixa e as pessoas não procuravam se inteirar tanto do assunto — conta.
A preocupação em proteger os pequenos faz parte da rotina do auxiliar de informática Jacson Marchi, 32 anos. Segundo ele, o cuidado é maior com a filha de quatro anos.
— A gente tem acompanhado esse “boom” no número de casos e fica preocupado. Em casa, procuramos fazer a nossa parte, evitando água parada, mas também buscamos estar sempre protegidos. A preocupação maior é com a nenê. Como o que ela usa já estava no fim, procurei já deixar um de reserva caso faltasse — detalha.
Na rede de farmácias Panvel, a procura por repelentes cresceu 379% em fevereiro na relação ao mesmo período no último ano. A empresa não revelou o percentual de vendas uma vez que, por se tratar de uma empresa de capital aberto, está no período de silêncio.
A Droga Raia informou que não tem um levantamento regional. Contudo, a nível nacional, registrou 200% de acréscimo nas vendas de repelentes em fevereiro de 2024 em relação ao mês anterior. Quando a comparação é com novembro de 2023, o aumento das vendas desses produtos chega a 500% no segundo mês deste ano.
Já a rede Farmácia Preço Popular (Clamed) informou que as quatro unidades em Passo Fundo contabilizam sucessivos aumentos na venda de repelentes desde novembro. Segundo a empresa, no penúltimo mês de 2023 foram vendidas 959 unidades de repelentes, uma procura sete vezes maior do que no mês anterior. Os dados de fevereiro ainda não foram fechados, mas a empresa afirma que a tendência é de que se confirme outro pico de vendas.
Prevenção à dengue
Repelentes e inseticidas ajudam a afastar o mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue e outras doenças, como febre chikungunya e zika vírus. A dermatologista Sabrina Sanvido explica que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária autoriza o uso de alguns tipos de repelente. São eles:
- DEET: não permitido para menores de 2 anos
- IR3535: permitido para crianças a partir de 6 meses
- Icaridina: substância mais recomendada pela OMS
A quantidade de aplicações varia de acordo com o produto dependendo da concentração, afirma a médica Sanvido.
- DEET: efeito dura de 2 a 8 horas
- IR3535: efeito dura de 4 a 8 horas
- Icaridina: efeito dura de 5 a 10 horas
Conforme a médica infectologista Vanessa Oliveira, do Hospital de Clínicas, não existe evidência científica robusta que sustente a eficácia e indicação de repelentes caseiros. Por isso, os repelentes comerciais continuam sendo a melhor escolha.
Algumas substâncias que exalam odores podem funcionar como repelentes naturais, como óleo de citronela, lavanda e melaleuca, mas, novamente, possuem eficácia inferior a repelentes comerciais com tempo de efeito protetor menor e muitas vezes desconhecido. Além dos repelentes, é possível prevenir a reprodução do mosquito com a limpeza de áreas internas e externas e eliminar objetos com água parada.