A contaminação pelo mosquito Aedes aegypti se tornou uma preocupação real neste início de 2024. No RS, 466 municípios estão infestados com o inseto que é transmissor de doenças como a dengue, zika vírus e febre chikungunya.
Conforme levantamento diário da Secretaria Estadual de Saúde (SES), são quase 9,6 mil casos de dengue confirmados e oito mortes, sendo seis nas regiões Norte e Noroeste, até 29 de fevereiro. No Brasil, a são mais de 920,4 mil casos prováveis de dengue desde o começo do ano, 184 mortes confirmadas pela doença e 699 óbitos em investigação.
A preocupação com a epidemia de dengue alavancou as pesquisas sobre o mosquito e a doença nas redes. Segundo o Google Trends, plataforma que mostra as tendências de pesquisa online, o termo "dengue" ganhou relevância nas buscas a partir de fevereiro. Entre as dúvidas, uma das mais frequentes era sobre o melhor repelente para combater o mosquito da dengue e formas de se proteger do inseto.
Por isso, GZH Passo Fundo convidou a médica infectologista Vanessa Oliveira, do Hospital de Clínicas de Passo Fundo, para esclarecer algumas das dúvidas mais frequentes dos usuários brasileiros a partir das buscas no Google. Confira a seguir.
Qual é o melhor repelente para se proteger do mosquito da dengue?
Vanessa Oliveira: repelentes contendo icaridina e os compostos químicos IR3535 ou DEET são recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A concentração ideal é 20% de icaridina ou 30% de DEET para maior eficácia. IR3535 e DEET têm duração de eficácia de duas horas e a icaridina de 10h, o que o torna o repelente com maior duração e melhor eficácia. Então, é muito importante se atentar ao rótulo do produto adquirido, validade e tempo de eficácia para reaplicação.
Existe repelente caseiro para a dengue?
V: não existe evidência científica robusta que sustente a eficácia e indicação de repelentes caseiros. Os repelentes comerciais continuam sendo a melhor escolha. Algumas substâncias que exalam odores podem funcionar como repelentes naturais, como óleo de citronela, lavanda e melaleuca, mas, novamente, possuem eficácia inferior a repelentes comerciais com tempo de efeito protetor menor e muitas vezes desconhecido.
Quando e como é a melhor maneira de aplicar o repelente?
V: Para a população, é recomendado aplicar principalmente no início da manhã e no final da tarde, que são os horários de maior chance de picada. Também é ideal avaliar o tempo de efeito do produto, com a reaplicação conforme o fabricante. Outras formas de prevenção incluem o uso de telas em janelas e portas das casas, mosquiteiros em crianças e de roupas cobertas. A vacina da dengue disponível na rede privada recentemente para pessoas de quatro a 60 anos também é uma das formas de prevenção.
Há outra forma de se proteger da dengue?
V: o controle ambiental dos criadouros de mosquitos tem sido a prioridade e foco de prevenção há anos. Evitar focos de água parada que podem ser reservatórios para larvas do mosquito é muito importante. Pratos sob vasos de plantas com água parada, pneus, garrafas, latas com água abandonados em terrenos, piscinas e caixas d`água sem cuidado, são alguns exemplos que devem ser combatidos. O uso de larvicidas e inseticidas nestes focos também é recomendado. A questão climática com o aumento de chuvas e elevação da temperatura dos últimos meses auxiliou para o expressivo aumento dos casos.
A dengue é transmissível?
V: Não. A dengue não é contagiosa e não é transmissível entre humanos. Porém a pessoa com dengue deve se proteger com repelentes e roupas compridas para evitar picada do mosquito Aedes aegypti, pois também é considerada um reservatório da doença, sendo fonte para novas infecções através do mosquito.
Em caso de suspeita de dengue, o que não é indicado ingerir?
V: medicamentos anti-inflamatórios, como AAS (muitos idosos usam esta medicação diariamente), ibuprofeno, cetoprofeno, mieloxicam e nimesulida. O uso de anticoagulantes também deve ser evitado no período crítico da doença. Isso porque a dengue por si aumenta a chance de sangramentos por alteração no sistema de coagulação e diminuição de plaquetas e o uso de anti-inflamatórios e anticoagulantes potencializa essa disfunção da coagulação e aumenta o risco de sangramentos. O ideal é que logo na suspeita da doença, os pacientes já procurem auxílio médico para evitar automedicação e para que sejam revisadas as medicações de uso contínuo.
Posso estar com a doença e não apresentar sintomas?
V: Sim. Em uma grande parcela dos casos, a doença pode ser assintomática (sem sintomas) ou oligossintomática (que apresenta poucos ou leves sintomas) e autolimitada (de baixa gravidade).