Desde 2011, o Ambulatório dos Primeiros Passos do Prematuro do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) fez mais de 25 mil atendimentos em Passo Fundo — número que equivale a pouco mais de 2 mil atendimentos por ano. O atendimento é referência para 114 municípios do norte gaúcho e oferece atendimento aos recém-nascidos com menos de 32 semanas e peso inferior a 1,5 kg.
O ambulatório conta com uma equipe multiprofissional composta por pediatra, neurologista, oftalmologista, fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, assistente social e enfermeira, que acompanham o bebê prematuro nos dois primeiros anos de idade.
— Em função da prematuridade, crianças que nasceram prematuras têm mais chance de desenvolver doenças crônicas pulmonares e cardíacas, e são mais vulneráveis a terem anemia, atraso no desenvolvimento e na aquisição da fala. Por isso o acompanhamento é fundamental nesses meses iniciais. A meta é que esses bebês sejam crianças e cidadãos ativos na comunidade — disse Wania Eloisa Ebert Cechin, médica pediatra responsável pelo atendimento aos recém-nascidos egressos de UTI neonatal.
No Brasil, a cada 10 nascimentos, um é de criança prematura. São 930 bebês que nascem antes das 37 semanas de gestação todos os dias no Brasil, o que representa 340 mil nascimentos prematuros por ano. Por ser um público mais vulnerável, a chance de doenças e mortalidade nos primeiros dois anos de vida aumenta consideravelmente, afirmam os pediatras.
A fim de chamar a atenção para esses números e sensibilizar a população sobre os cuidados e prevenção do parto prematuro, o mês ganhou o rótulo de Novembro Roxo. A ação tem como ponto central esta sexta-feira (17), que é alusiva ao Dia Mundial da Prematuridade.
Procura aumenta a cada ano
Em média, o ambulatório presta 130 atendimentos a bebês prematuros por mês. No entanto, entre março a agosto, quando começam as imunizações contra os problemas respiratórios, o número de atendimento quase dobra, afirmou a médica.
Além disso, o número de nascimentos prematuros cresce a cada ano. Uma das principais causas é a gestação múltipla, ou seja, de gêmeos, que invariavelmente nascem prematuros. Por isso, Wania alerta para a importância do acompanhamento pré-natal.
— Outras questões que fazem com que o número de nascimentos prematuros aumentem são os casos de gravidez na adolescência e comorbidades maternas desenvolvidas pela falta de assistência no pré-natal. Desse modo, mães com hipertensão arterial, diabetes gestacional, e infecção urinária, por exemplo, têm grandes chances de terem filhos prematuros — pontua.
A pequena Cecília de um ano e dois meses é uma das pacientes do ambulatório. A mãe, Vivian Sitta, 28 anos, conta que a menina nasceu com 30 semanas após a sua bolsa romper na 28ª semana. Ela nasceu com 1,4 kg, passou 29 dias na UTI neonatal e três dias no quarto até receber alta. Desde então faz o acompanhamento no ambulatório.
— Aqui ela recebe todo o necessário desde o pediatra, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e oftalmologista. Por ser prematura, a gente já não tem muito conhecimento e o trabalho desenvolvido aqui é fantástico, com todo suporte, nos dando segurança e apoio. Hoje ela está maravilhosamente bem e eu creio que a gente deve isso ao ambulatório — detalha.
UTI neonatal
Nos próximos dias, o ambulatório deve ganhar uma nova paciente: a pequena Clarice Maria, de 33 dias. A mãe dela, Mariana Lyra Ramalho Trigueiro Mendes, 28 anos, conta que a menina nasceu com 29 semanas e 1,2 kg.
Mariana é médica pediatra residente em Neonatologia no HSVP. Se antes ela se dedicava ao atendimento de bebês prematuros internados lá, agora ela vive o outro lado, como mãe de uma recém-nascida atendida no espaço.
— Quando eu trabalhava como residente na UTI, admirava muito a calma e a tranquilidade dessas mães. Eu falava comigo mesma: como consegue ser tão calma, tão resiliente? Hoje eu entendo o verdadeiro sentido de entregar tudo realmente nas mãos de Deus. É um processo de aprendizado diário, valorizar as pequenas conquistas e aproveitar todo o processo que não é fácil — disse a mãe de Clarice Maria, que já está com 1,8kg e deve ganhar alta em breve.
O HSVP conta com 28 leitos de UTI neonatal, 20 de pacientes de cuidados intensivos e mais 10 leitos de cuidado intermediário, quando a criança está estável, ganhando peso e aprendendo a mamar. Atualmente, a ala conta com 100% de ocupação.
Ações de sensibilização
No sábado (18) o HSVP realiza uma ação de sensibilização do Novembro Roxo das 13h às 18h, em frente a Unidade de Relacionamento do HSVP no Passo Fundo Shopping, no Piso Térreo. A ação contará com a presença de profissionais preparados para orientar e alertar a sociedade para as causas e consequências do nascimento prematuro.
Em 26 de novembro, o Hospital de Clínicas de Passo Fundo realiza o 3º encontro de prematuros na praça da instituição, a partir das 15h. O evento deve reunir pacientes que foram atendidos na instituição e suas famílias.