Passo Fundo, no norte do Estado, contabiliza um número de casos de dengue nunca antes visto na série histórica do município. Com 342 confirmações da doença, a cidade é considerada infestada pelo Núcleo de Vigilância Ambiental e a população atravessa um surto de proporções inéditas.
Com casos em ascensão e com a primeira morte pela doença confirmada na quarta-feira (26), o município sofre com obstáculos na contingência do mosquito Aedes Aegypti. GZH Passo Fundo explica quais são esses obstáculos e por que Passo Fundo chegou a esse patamar de infestação.
Por que Passo Fundo tem tantos casos?
A busca tardia por atendimento médico e a dificuldade da população em seguir orientações são os principais fatores, conforme a chefe do Núcleo de Vigilância Ambiental, Ivânia Silvestrin.
De acordo com ela, a comunidade precisa estar atenta aos sintomas de dengue, que podem ser confundidos com gripe ou virose, mas por estar em um município infestado, é preciso considerar a doença. Uma vez que a pessoa busca atendimento e se torna caso suspeito, a vigilância é acionada e realiza um trabalho de controle do mosquito na região de residência do paciente, o que evita maior disseminação do vetor.
O segundo fator é o relaxamento nos cuidados práticos, que embora já conhecidos, não são seguidos à risca. Não armazenar água parada em vasilhas, piscinas, caixas d'água e demais recipientes que possam se tornar criadouro do mosquito são fundamentais na prevenção.
Onde estão concentrados os casos?
A maioria dos casos estão nos bairros Vila Luíza, Centro, Boqueirão, Vila Rodrigues, Lucas Araújo, Petrópolis e São José, de acordo com a chefe do núcleo.
Como a transmissão acontece?
A fêmea do mosquito, ao picar uma pessoa com o vírus, se torna infectada e passa a disseminá-lo para todas as demais que forem picadas. E a contaminação é rápida: em um raio de 300 metros, o inseto pode infectar de 100 a 200 pessoas.
Outro fator que ajuda na disseminação é a longevidade dos ovos do mosquito. Eles ficam na natureza por até 450 dias, assim, ovos do verão passado, em condições facilitadas pela população, passam a eclodir somente agora.
Quais são os sintomas?
Dor de cabeça, dor no corpo, cansaço, mal-estar e febre são os principais sintomas. Por isso, a importância de buscar atendimento o quanto antes.
Quais ações de combate estão sendo feitas?
O município tem disponibilizado contêineres em pontos específicos da cidade para que os moradores possam fazer o descarte adequado de resíduos, evitando o acúmulo de lixo nos pátios.
Diariamente, agentes de endemia também tem feito o bloqueio do mosquito com a pulverização em áreas que tiveram casos confirmados, como nos bairros Lucas Araújo, Vila Luíza, Petrópolis e Annes.
Como é feita a testagem da doença?
O teste para dengue está disponível na rede privada e o valor gira em torno de R$ 100. Na rede pública, a coleta é feita e enviada ao Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul (Lacen), que divulga o resultado. O exame é feito por amostra de sangue, a partir do sétimo dia de sintomas.
E a vacina?
Conforme Ivânia, a vacina na rede pública ainda é uma realidade um pouco distante. No momento, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estuda um imunizante, que já demonstrou 80% de eficácia contra a doença. No entanto, não há informação oficial do Ministério da Saúde ou da Secretaria Estadual da Saúde sobre a disponibilização de uma vacina.
Outro imunizante, Qdenga, já foi aprovado pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e agora está em análise na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). O processo leva em média três meses. Paralelamente, o laboratório responsável trabalha para incluir a vacina no calendário do Programa Nacional de Imunização (PNI). Se incluída, a vacina é disponibilizada a toda a população, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Na rede privada, já existe um imunizante, porém, é pouco acessível por custar cerca de R$ 500 por dose - o esquema é composto por três aplicações. Além disso, a pessoa já precisa ter tido contato com o vírus para recebê-la, sendo mais um impedimento.
Qual é a perspectiva de agora em diante?
A chegada do frio é uma aliada no combate à dengue. As pessoas circulam com o corpo mais coberto e o mosquito tem maior dificuldade em se locomover para depositar ovos. No entanto, os ovos deixados pela fêmea durante o calor podem permanecer em espera até o próximo verão - por isso, os cuidados com água parada devem permanecer, conforme pontua Ivânia.
Denúncias
Quem identificar possíveis criadouros de mosquito, deve denunciar para a Vigilância Epidemiológica. Telefones: (54) 3185-0971; (54) 3185-0966; (54) 3185-0958; e WhatsApp, para envio de imagens: (54) 99654-1444.