Depois dos 45 dias de campanha e de celebrar a vitória pela reeleição na noite de domingo (6), o prefeito Pedro Almeida (PSD) trabalhou normalmente nesta segunda-feira (7) em Passo Fundo.
Em sua segunda eleição, ele conquistou 46.290 votos — 6.096 a mais que recebeu em 2020 — para permanecer no cargo por mais quatro anos. Foram 12,3 mil votos a mais que o segundo colocado, Marcio Patussi (PL), e quase 17,8 mil ante Airton Dipp (PDT).
Em entrevista com Almeida na tarde desta segunda-feira (7), na sala de reuniões da prefeitura, o político falou sobre a continuidade do governo que começou com Luciano Azevedo em 2013, o amadurecimento em relação ao primeiro mandato e as áreas que pretende dar mais atenção nos próximos quatro anos.
Leia a entrevista completa a seguir.
GZH: a que o senhor atribui tanto tempo de continuidade de um governo? Começou com o ex-prefeito Luciano (Azevedo), em 2013, quando ele assumiu efetivamente, e segue com o senhor reeleito agora.
Pedro Almeida: o principal é o resultado. A população percebe os resultados da nossa gestão. E outra coisa que eu atribuo muito, especialmente que nos diferenciou na campanha eleitoral, é que prometemos o que poderíamos cumprir.
Se analisar as propostas da campanha, que são quatro ou cinco ideias macro, elas são todas viáveis e pensadas para que a gente possa entregar. Não adianta ir para uma campanha eleitoral e fazer 40, 50 promessas e depois não cumprir nenhuma.
Eu lembro de 2020, e para mim é muito claro, tudo o que a gente prometeu, a gente cumpriu: nova emergência no hospital, Hospital Dia da Criança, Escola das Profissões, o novo campo do quartel. Aquilo era palpável e as pessoas têm memória. Elas sabem que prometemos algo e fizemos, entregamos. Isso reforça a nossa relação com a população.
Eu venho da iniciativa privada, sou uma figura nova nesse meio político, mas fico muito feliz porque em 2020 ninguém sabia direito quem era o Pedro. Agora a gente tem uma trajetória e eu respeito muito isso. É um compromisso que temos com a nossa cidade.
É claro que Passo Fundo tem muitos desafios, não estou dizendo que está tudo resolvido, longe disso, mas essa segurança que as pessoas depositam na gente com o voto faz com que consigamos criar um ambiente favorável.
GZH: você citou durante a campanha o programa que vai pagar para as mães manterem os filhos na escola. Como pretende fazer para implantar esse projeto?
Pedro: o objetivo é muito claro: ajudar as mães, especialmente aquelas que trabalham e têm três, quatro filhos, e muitas vezes são sozinhas. Queremos garantir que o aluno não saia da escola porque vemos que, quando há fragilidade da família, o filho deixa de estudar. O nosso compromisso é que a criança permaneça na escola.
Depois vamos criar um arranjo de como isso vai se dar ao longo do tempo, quais são os deveres para ter esse direito. Tem que ter toda uma construção que vai ser feita com muita calma agora, mas eu acredito muito nesse modelo.
Outra coisa é o programa Prepara, que é voltado ao aluno do ensino médio e fala bem com o momento atual. Uma cidade que é a principal geradora de empregos, tirando a Capital, precisa de mão de obra capacitada. Isso começou com a Escola das Profissões, mas a gente nota que é esse público, especificamente o ensino médio, que tem mais dificuldade.
GZH: imagino que vocês tenham olhado para as finanças para definir esses programas. De onde sairia o recurso para pagar a mãe e auxiliar esse estudante de ensino médio?
Pedro: olha, a prefeitura hoje vive um grande momento econômico. Isso foi construído ao longo do tempo. Tem um orçamento que dá conta de toda essa demanda e vamos poder fazer, inclusive, mais investimentos. Estamos prevendo em infraestrutura, por exemplo.
É o caso, por exemplo, do trevo do Gran Palazzo, no distrito industrial do Valinhos, que assumimos o compromisso com o Estado de fazer a obra com recursos próprios. É claro que a gente tem que sempre perceber, e essa é a grande discussão que muitas vezes as pessoas não compreendem, que existem limitações e obrigações dentro do orçamento.
Agora em outubro a Câmara vai discutir o orçamento e os vereadores vão destinar as verbas para cada área. Mas qual é a limitação que o prefeito tem? Não dá para tirar um recurso da educação e colocar na infraestrutura. Ou tirar da saúde e colocar numa praça, como veio à baila na campanha de uma forma muito absurda, até.
As pessoas querem dizer que o prefeito investe na praça e não investe na saúde: não tem nada a ver uma coisa com a outra. O orçamento é muito definido. Tanto é que a gente investe, inclusive, acima do que é o mínimo legal: tem 15%, que é a obrigação da saúde e a gente investe 20%, 21%, 22%. Tem o mínimo de educação, 25%.
Observados esses critérios legais, a gente obviamente vai ter sempre uma responsabilidade muito grande sobre o orçamento. Eu lembro da época do prefeito Luciano, nós tivemos que fazer uma grande gestão de custos. Era muito difícil, o orçamento era muito inferior.
Quando entramos na prefeitura em 2013, o orçamento era em torno de R$ 400 milhões. Agora vamos chegar a R$ 1,3 bilhão. Então existe um crescimento todo da cidade nesse sentido. É claro que aumentam as obrigações também, porque tem mais gente, mas está tudo equilibrado.
GZH: o senhor se incomoda quando lhe comparam com o Luciano? Na campanha se falou bastante sobre isso.
Pedro: Eu acho uma honra. Não me incomoda de maneira nenhuma. Eu tenho muito claro que o Luciano, sem dúvida alguma, é o maior expoente político que a cidade já produziu. Trinta anos em vida pública, três vezes vereador, duas vezes deputado estadual, duas vezes prefeito, deputado federal.
Eu sei o meu lugar. O meu lugar é um prefeito novo, que fez uma primeira gestão, que eu considero boa, que inclusive me garantiu ser reeleito. Mas é claro que é uma trajetória que está no início também.
GZH: e pretende seguir?
Pedro: vamos ver o que acontece nos próximos quatro anos (risos).
GZH: o seu governo tem maioria na Câmara. São 12 candidatos efetivamente, mas podemos dizer que há 13 aliados se contarmos Rafael Colussi, que é do União Brasil mas te apoiou abertamente na campanha. Sendo assim, qual a primeira ação a tomar no novo mandato?
Pedro: estamos fazendo uma avaliação dos projetos que estão em andamento, porque a prefeitura não para. A eleição terminou ontem e hoje de manhã eu já estava aqui às 8h. Isso é bom por um lado, nós temos muitos projetos que já estão andando na cidade e não vão parar, como as obras do Hospital Municipal e o Parque Linear da Avenida Brasil, que deve ser entregue agora.
É claro que a gente tem as propostas que trouxemos para a campanha, que são novas, e vamos debater agora com o grupo para colocá-las em prática o mais rápido possível a partir do ano que vem.
E também pensar esse arranjo do secretariado: quem fica, quem não fica, como é que isso se dá... Porque é natural que o governo tenha modificações, mas vamos manter o critério técnico, de trazer pessoas que tenham proximidade com a área que vão atuar.
E, especialmente com a Câmara de Vereadores, agora um pouco mais experiente, eu pretendo que a gente faça, imediatamente, nos próximos dias, uma reunião com todos os vereadores eleitos. Quero começar diferente dessa vez, mostrando a eles as nossas propostas, recebendo também indicações, sugestões...
Ao meu ver, assim como a prefeitura tem muitas ações, também ficou claro na campanha eleitoral que os próprios adversários não conheciam o nosso governo e traziam propostas de coisas que já existiam, como o tempo integral.
GZH: então a primeira ação é se reunir com os novos vereadores. O senhor considera que o seu primeiro mandato não teve uma relação tão próxima com o Legislativo quanto gostaria que fosse? Qual foi a questão dessa primeira experiência?
Pedro: eu acho que, como nós tínhamos uma maioria simples, em alguns momentos os projetos tinham dificuldade, embora tenhamos tido uma aprovação maravilhosa, praticamente 99% dos nossos projetos foram aprovados na Câmara.
O que eu acho que realmente precisa um pouco mais de aproximação do ponto de vista do entendimento do nosso projeto.
Claro, há a liberdade de cada vereador, mas quero possibilitar que eles conheçam um pouco mais o governo, acho que é importante para todos. E eu faço a minha parte de aproximar um pouquinho mais.
GZH: além disso, o que o senhor deseja focar mais nos próximos quatro anos? Tem alguma pasta que deve olhar com mais atenção?
Pedro: estou muito preocupado com a questão da infraestrutura. Como as obras geralmente demoram mais, queremos arrancar logo com esses projetos que são maiores, de infraestrutura mesmo. Por exemplo, temos cinco trevos que temos que resolver.
Dois já têm convênio assinado e as obras podem começar nos próximos dias (trevos do Gran Palazzo e De Carli). Os outros três (Caravela, Santa Marta e Roselândia) dependem do governo do Estado. Agora quero ir logo ao governador também para ver como está esse andamento.
Tem a questão do aeroporto, que nos preocupa também. Tem um edital para ser realizado e queremos que saia o mais rápido possível para vir a empresa ganhadora e que ela comece a fazer os investimentos de ampliação.
Então a questão da logística e da infraestrutura são áreas que eu vou dar uma atenção muito grande a partir de agora, para agilizar um pouco.
GZH: e a licitação do transporte público? Em junho soubemos que estava em preparação e que devia sair até o fim deste ano. Qual a previsão agora?
Pedro: essa licitação é a mais complexa que a prefeitura vai realizar na sua história. Na época do prefeito Luciano foram duas tentativas. Chegou a abrir edital e os dois foram impugnados. Aí veio a pandemia, que bagunçou toda a planilha de cálculos. Nós demoramos muito tempo depois da pandemia para voltar a uma chamada normalidade do sistema.
Agora temos dados mais concretos. Foi, inclusive, contratada uma consultoria externa para fazer todos os levantamentos. E avançamos em outra pauta que era muito importante para esse momento, que é o subsídio do transporte público.
Passou por um tempinho e nós conseguimos passar isso na Câmara de Vereadores. Você lembra que a primeira vez não deu certo? Foi reprovado e nós insistimos numa segunda demanda, até ser aprovado. Se não tivéssemos o subsídio, hoje a tarifa pública seria algo em torno de R$ 7. Isso inviabilizaria completamente o sistema como um todo.
No meio tempo disso, também aconteceu a troca do operador. Houve uma negociação e uma nova empresa opera a antiga Coleurb. Bom, todas essas adaptações foram necessárias. Eu acho que agora está mais maduro, inclusive como termo de referência, para a gente fazer essa licitação.
Vamos trabalhar para que seja feito esse ano ainda, mas depende de diferentes etapas. Até porque esse processo está judicializado e é acompanhado pelo Judiciário, Ministério Público, Câmara dos Vereadores, enfim. Existe toda uma demanda para que a gente possa avançar.
GZH: então a tentativa é até o final do ano. Se não acontecer...?
Pedro: aí fica para o início do ano também. Mas não depende só da prefeitura. É um processo que está em andamento.
GZH: sobre o secretariado, já tem nomes em mente? Deve ter uma mudança muito grande? Qual é a sua visão?
Pedro: não parei para pensar nisso ainda. Não deu tempo. A eleição foi ontem. Então é natural que agora a gente observe nos próximos meses aqui. Eu acredito que em torno de 60 dias nós vamos saber quem permanece, quem troca, quem sai. Mas a tendência é que tenha pouca mudança.
As mudanças que houverem vai ser por questões do secretário ter outros convites, enfim. Mas o principal é o grupo gestor que está trabalhando. Nosso modelo de governança não muda.
Vamos manter a gestão por indicadores, ter pesquisa no governo, não trabalhar com achismo. Temos uma pesquisa (de opinião) com a população a cada quatro meses onde vemos quais itens estão dando certo e quais não estão. A questão técnica vai continuar.