Um equipamento de 15 centímetros, imperceptível à população em geral, mas que daria independência a um grupo específico de pessoas. A caixa amarela, acoplada em quatro semáforos de pedestres de Passo Fundo, no norte do Estado, deveria emitir sinal sonoro para que pessoas com deficiência visual saibam o momento permitido para atravessar as vias públicas. Entretanto, apenas duas funcionam em toda a cidade.
Na teoria, as botoeiras precisam ser ativadas para avisar quando a passagem de pedestres é permitida. O som intermitente aumenta a velocidade conforme se aproxima do momento em que fecha o semáforo. GZH Passo Fundo foi até as sinaleiras equipadas no centro da cidade e constatou que apenas duas botoeiras das quatro funcionam, mas não perfeitamente.
Para realizar o deslocamento, os cegos criam mapas mentais que permitem sua localização. Porém, para atravessar as vias, eles dependem de ajuda e solidariedade da população, para guiá-los em segurança. O presidente da Associação Passo-fundense de Cegos (Apace), Fábio Flores, tem cegueira total e relata que espera em média cinco minutos para conseguir atravessar as vias do Centro, esperando ajuda na condução:
— Passo Fundo cresce em várias áreas, mas na questão da acessibilidade está muito aquém ao seu porte. Hoje nossa cidade não é acessível. As calçadas são irregulares, e as poucas botoeiras que existem, não funcionam de forma adequada. Temos cada vez mais pessoas com deficiência circulando, e este seria apenas um dos mecanismos que podem tornar a cidade mais acessível.
Apenas dois funcionam
Dos 10 cruzamentos com semáforos que indicam o tempo para pedestres, apenas quatro estão equipados com as botoeiras de sinal sonoro para cegos. Eles estão localizados no cruzamento entre a ruas Morom e Bento Gonçalves, e na Avenida Brasil com as ruas Bento Gonçalves, Coronel Chicuta e a Avenida Sete de Setembro.
Nas duas ruas em que o equipamento funciona, existem problemas. No cruzamento da Bento Gonçalves, o sinal sonoro leva apenas até o canteiro central da Avenida Brasil, e não até o trajeto inteiro de travessia da via. Já na esquina entre as ruas Morom e Bento Gonçalves, o aparelho pode ser ativado de apenas de um lado da via.
O secretário municipal da Secretaria de Segurança Pública, responsável pelo assunto, João Darci Gonçalves da Rosa, afirma que ações de fiscalização e reparo são realizadas constantemente:
— As ações são constantes, possuímos equipe de manutenção, o maior problema é motivado por pessoas que depredam os equipamentos. Alguns também são danificados pela passagem de caminhões com alturas elevadas e que arrebentam a fiação.
Panorama
Na Associação Passo-fundense de Cegos (Apace) são 247 pessoas cadastradas, desde recém-nascidos até idosos. São desenvolvidos trabalhos que desenvolvam as habilidades e funções das pessoas com deficiência visual, em todos os graus. Conforme Flores, o último censo realizado em 2010 mostrava a população de 1,5 mil pessoas cegas em Passo Fundo.
— Nós dependemos da ajuda das pessoas, e acho que todos ainda precisam entender que cegueira não é transmissível, é uma coisa natural. Conseguimos realizar muitas coisas, mas atravessar a rua realmente não tem como, então precisamos da ajuda de todos, incluindo o poder público para pensar ações efetivas para nós —afirma o presidente.