Ao mesmo tempo que pautas ambientais ganham maior espaço para discussão, hábitos de consumo também são moldados para atender essas demandas. Opção para quem quer economizar ou ajudar uma causa, a prática de comprar peças de vestuário de segunda mão tem se tornado comum entre o público feminino. No Estado, são mais de 1,7 mil negócios deste modelo. Apenas na Região Norte, são 86 pequenos negócios cadastrados, sendo que 33% destes estão em Passo Fundo.
Nos três primeiros meses de 2023, foi registrada a abertura de 34 pequenas empresas cadastradas como comércio de artigos usados no Estado. O número é considerado baixo em relação aos anos anteriores, que tiveram um aumento de 76 (em 2021) e 89 (em 2022) no mesmo período. Os dados foram consultados no painel de monitoramento do Sebrae.
— A reutilização beneficia primeiramente o meio ambiente, pela indústria têxtil ser uma das mais poluentes do mundo, mas também para nós mesmos, por serem peças mais baratas e mais agregadas em qualidade — afirma a empreendedora do ramo, Aline Gonçalves.
Brechó beneficia crianças em tratamento de câncer
Carro chefe do Centro Assistencial à Criança com Câncer (Cacc) de Passo Fundo, o brechó solidário garante parte do funcionamento da instituição, com lucro variável entre R$ 16 mil e R$ 28 mil mensais. As peças são arrecadadas por meio de doação, e passam por curadoria para integrarem o acervo da loja ou serem destinadas às pessoas carentes.
— A gente sempre pede que mande para nós aquilo que você não está utilizando mais e que está em condições. Ela será usada em benefício de uma instituição que atende crianças com câncer, para que a casa possa proporcionar aquilo que a gente anseia. Tudo o que a gente faz não é para nós, mas em benefício de crianças que estão necessitando — relata a presidente do Cacc, Neli Formighieri.
Além das roupas, calçados e acessórios femininos e masculinos, são comercializados utensílios domésticos, itens de papelaria, livros e brinquedos. No momento, o Cacc atende cerca de 50 crianças em tratamento permanente contra o câncer e outras 40 em acompanhamento, oferecendo auxílio psicológico e social. Para quem vem de fora da cidade, é oferecido estadia e alimentação.
Para o público infantil
Voltado ao público infantil, o brechó Sweet Maria comercializa roupas, acessórios, calçados e brinquedos de marcas conhecidas e importadas. O acervo é alimentado por meio de consignação com as clientes, que trazem as peças que não servem mais nos filhos e, na maioria das vezes, retiram o lucro em novos itens.
— As crianças usam muito pouco as peças, nos dois primeiros anos de vida elas perdem a peça a cada três meses, então é um ciclo muito curto. As mães me procuram e dizem que o filho usou duas ou três vezes, então elas buscam vir aqui, pegam peças em excelente estado, por menos da metade do preço — explica a proprietária Thalia Scherer Cardoso, 42 anos.
Cliente desde o início da loja, Andreia Pini veste a filha de cinco anos com peças do brechó por conta dos valores e da qualidade. Ela conta que sempre que relata as venda para as amigas é recebida com surpresa:
— Quando me perguntam onde compro as roupas da Luiza Maria as pessoas até não acreditam quando digo que é de bazar. Porque não associam à qualidade, não tem manchas nem furinhos, são roupas perfeitas e que parece que comprou na loja mesmo — relata.
Publicitária de formação, Thalia usou da estratégia de publicar no perfil da loja sobre conscientização sobre economia e reutilização, para angariar as primeiras clientes. O espaço físico foi inaugurado em 2021, mas a divulgação das peças disponíveis é feita inteiramente pela internet, com rede de clientes de toda a região Norte, atingindo até os estados de Santa Catarina e Paraná.
O sonho do próprio negócio
Com o sonho de ter um negócio, Aline Gonçalves, 33 anos, viu no próprio acervo de roupas a oportunidade de empreender. Com perfil criado em uma rede social, ela iniciou as publicações das peças disponíveis para venda online em 2019, conciliando com um emprego presencial. O modelo se fortaleceu mesmo no início de 2020, com peças sendo enviadas para todo o Brasil.
— A maioria das pessoas se interessam inicialmente pelo valor, mas depois começam a pegar gosto pela qualidade. São peças únicas e de qualidade. Depois que eu entrei nessa área eu me apaixonei — afirma Aline.
A loja em ponto comercial estreou no fim de 2021, no Centro da cidade. São comercializados roupas femininas, acessórios e calçados. O Meu Usado Favorito trabalha com consignação, em que as clientes podem levar as peças para serem vendidas, porém, a meta agora é avançar para a curadoria.
— Para quem quer começar a comprar em brechó, a dica é ter calma. Vá com tempo, olhe peça por peça, garimpe mesmo. Porque aqui não existe aquela pressão pela compra, eu não quero que ninguém leve nada forçado. E outra dica é provar, porque às vezes no cabide é um caimento e no corpo outro — complementa.
Abertura no RS, conforme dados do Sebrae
- 1º trimestre de 2021: 76 empresas abertas
- 1º trimestre de 2022: 89 empresas abertas
- 1º trimestre de 2023: 34 empresas abertas