Por Nadja Hartmann, jornalista
Ainda que muitos acreditem que as redes sociais diminuíram a importância da propaganda eleitoral gratuita para a decisão do eleitor, não resta dúvida que o tempo de cada partido é moeda forte nas negociações de alianças. Com menos tempo de campanha e menos recursos, cada segundo conta...
Sendo assim, o PL deve ser a “noiva” mais disputada, uma vez que a maior bancada na Câmara dos Deputados garante ao partido o maior tempo de propaganda. Em seguida está a Federação PT–PcdoB–PV e, depois, o União Brasil e o PP.
Quase empatados, mas bem atrás em número de deputados, e, consequentemente, na distribuição do tempo, estão o MDB, PSD e Republicanos. Já PSDB e Cidadania, junto com PDT e PSB, com menos de 20 deputados cada um, têm ainda menos atrativos para oferecer neste quesito.
Apesar da propaganda eleitoral só iniciar daqui um ano, são os minutos e segundos de possíveis aliados que os dirigentes partidários levam em conta nas negociações, o que não é diferente em Passo Fundo.
A noiva
Esse “atrativo” é que vem fazendo com o que o PL de Passo Fundo seja buscado como aliado por diversos partidos para as eleições do ano que vem. Para ter uma ideia, o partido possui o dobro de tempo do PSD, por exemplo, sigla do prefeito Pedro Almeida.
De acordo com o presidente Márcio Patussi, as conversas estão bem adiantadas com o Republicanos e o Podemos, mas que o PSDB “tem assento no grupo”. Segundo ele, a aliança com os tucanos não está 100% finalizada, mas falta muito pouco para isso acontecer, uma vez que o PSDB “entendeu a força aglutinadora e a consistência de nosso bloco de oposição”, declarou Patussi.
Ele complementou que existe até mesmo a possibilidade dos tucanos fazerem parte da majoritária. Aliás, para quem está longe de ter um “latifúndio” de tempo de propaganda e apenas um vereador na Câmara, o PSDB é que parece estar sendo a noiva mais disputada nestas eleições, já que também vem sendo “paquerado” pelo PSD.
Variáveis
Por “consistência do bloco de oposição” entenda-se entre outras coisas o cálculo que soma os 31 mil votos de Patussi em 2020, mais os 13 mil de Cláudio Doro (PSC), ou mais recentemente, em 2022, os 11 mil votos de Patussi, já pelo PL e os 8 mil votos de Rodinei Candeia (Republicanos), ou ainda os 58 milhões de votos de Jair Bolsonaro.
Porém, não se pode esquecer que uma eleição é uma eleição e outra eleição é outra eleição, com inúmeras variáveis que fazem com que 2+2 não necessariamente sejam 4...
Uma destas variáveis é o fato de Patussi ter concorrido em 2020 pelo PDT, que é a maior sigla em número de filiados do município. Outra variável, e que deve ter grande peso na campanha em 2024, é a redução no número de candidatos a vereador de cada partido. Em Passo Fundo, caiu de 30 para 22. Ou seja, são menos oito cabos eleitorais de cada partido trabalhando para as majoritárias.
Decisão
De qualquer forma, como presidente do PL, Patussi afirma que os nomes da majoritária só devem ser definidos em dezembro. Confirma, porém, que colocou seu nome à disposição para a disputa.
— Em março deste ano, em função de questões pessoais, eu tinha decidido não concorrer, mas em maio fui convocado pelo presidente do partido no RS, Giovani Cherini, e a partir de uma reorganização na minha vida pessoal, decidi concorrer em 2024 — afirmou.
Quanto ao impacto de uma possível aliança com o PSDB para 2026, Patussi afirma que as alianças municipais só servem para as eleições municipais, e que o PL só tem impedimento de aliança com um partido que é o PT.
Claro que, caso isso se confirme, o primeiro a desembarcar do ninho tucano deve ser o vereador Luizinho Valendorf que, como vereador “independente”, é mais leal ao governo do que muito vereador da base. Para compensar, porém, o bloco em breve deve estar ganhando dois vereadores: Gleison Consalter (PDT) e Renato Tiecher (Podemos), o que deve garantir a maior bancada na Câmara.
Estratégia
Ao mesmo tempo que o Simpasso está comemorando os avanços conquistados em alguns pontos da reforma administrativa, com as mensagens retificativas enviadas pelo Executivo à Câmara de Vereadores a partir de apontamentos feitos pelo sindicato, o CMP manteve o indicativo de greve que será votada em assembleia nesta segunda-feira (18).
O órgão que representa os professores municipais entendeu que não houve avanços nas negociações. Assim, se repete uma novela que já vimos durante o impasse do reajuste salarial, quando propostas diferentes acabaram dividindo as categorias, fazendo o movimento perder força. Seria coincidência se não fosse estratégia...
Retrocesso
A votação da segunda parte da minireforma eleitoral na Câmara, onde 345 deputados aprovaram o texto que flexibiliza uma das maiores conquistas da cidadania, que é a Lei da Ficha Limpa, talvez ajude a compreender o motivo do Congresso Nacional ter a aprovação de apenas 16% dos eleitores, segundo pesquisa da DataFolha divulgada na semana passada.
Um dos idealizadores da lei, o advogado e ex-juiz Márlon Reis declarou ao site Congresso em Foco que a aprovação do texto significa “a maior contribuição para a participação política do crime organizado que já se ousou tentar até o momento no Brasil”.
A mudança na lei, segundo ele, beneficia sobretudo a candidatura de condenados por crimes hediondos. Infelizmente, a maioria da bancada gaúcha votou favorável ao projeto, inclusive deputados da região, como Márcio Biolchi (MDB) e Giovani Cherini (PL). Já o deputado Luciano Azevedo (PSD) foi um dos 55 votos contrários à mudança.
Entre em contato com a colunista pelo e-mail: nhartmann@upf.br