Nadja Hartmann

Nadja Hartmann 
Opinião

Clima tenso e confusão marcam sessão da Câmara de Passo Fundo

Sessão teve que ser interrompida devido à lotação do auditório e houve confronto entre funcionário do legislativo e representante da categoria dos servidores

Nadja Hartmann

Passo Fundo

Por Nadja Hartmann, jornalista

Logo na estreia, as tradutoras de Libras contratadas pela Câmara de Vereadores de Passo Fundo tiveram muito trabalho para interpretar o que acontecia na sessão de segunda-feira (11), que foi extremamente tensa e tumultuada. 

Durante uma votação, os servidores que faziam uma assembleia no Paço Municipal ocuparam o plenário, obrigando o presidente Alberi Grando (MDB) a interromper a sessão devido a superlotação. É que de acordo com laudo do Corpo de Bombeiros, o espaço é para 233 pessoas sentadas e havia mais de 300 pessoas tentando permanecer no auditório. 

A ordem para que as pessoas em pé deixassem o local irritou os servidores, que se diziam impedidos de permanecer na “Casa do Povo”, discurso reforçado na tribuna pela vereadora Regina Costa (PDT). O clima ficou ainda mais tenso quando um dos servidores do Legislativo que tentava conter a entrada foi empurrado por um representante da categoria.

“Radicalismo”

Ou seja, o episódio todo foi lamentável e seria demasiado simplista apontar culpados. O presidente da Câmara tem razão de seguir a legislação e garantir a segurança da sessão. Por outro lado, os sindicatos que representam os servidores também têm razão, mais do que isso, têm o direito de exercer pressão com atos que demonstram a força da categoria...

Só quem não tem razão é quem parte para o enfrentamento até mesmo físico, e quem, em vez de agir com responsabilidade apaziguando os ânimos, coloca mais lenha na fogueira com “pronunciamentos-querosene” na tribuna. 

Aliás, pelo menos nos próximos dias, não convidem os vereadores Alberi Grando e Regina Costa para sentarem na mesma mesa. Ao final da sessão, o presidente da Casa deixou a sua diplomacia habitual de lado e fez questão de usar a tribuna para criticar o que ele chamou de “radicalismo” da vereadora e dizer que se sentiu agredido e coagido pela colega...

Apoio

Ao final do tumulto, a interpretação de alguns vereadores é que o episódio pode ter servido para a categoria perder o apoio até mesmo daqueles que estavam ao lado dos servidores. Não é para tanto, até porque sabemos que a definição do voto de cada vereador não depende do comportamento dos servidores. 

Matematicamente, a reforma administrativa já está aprovada, restando agora deixá-la “menos ruim” para a categoria, com a alteração ou supressão de algumas cláusulas e menos desgastante politicamente para os vereadores da base. 

Aliás, o único vereador da base que teve a coragem de defender a reforma na tribuna durante a sessão foi Nharam Carvalho (União Brasil), que agiu verdadeiramente como líder de governo, assumindo a tarefa do vereador Gio Krug (PSD), que mais uma vez optou por jogar para a torcida, sendo inclusive aplaudido pela categoria.

Pesquisas

Faltando um ano para as eleições e menos de 10 meses para as convenções partidárias, a palavra de ordem nos partidos é “pesquisa”. E tem para todos os gostos e interpretações. Tem as com nome e sobrenome e as que apenas indicam tendências, como por exemplo, a porcentagem do eleitorado de Passo Fundo que votaria em um candidato “do Eduardo Leite”, do “Lula” ou do “Bolsonaro”.

Aliás, nestas, os resultados são no mínimo surpreendentes... É que, na verdade, as decisões que serão tomadas para 2024 miram também 2026. Se as eleições fossem hoje, uma das possibilidades que se desenham no cenário é de Passo Fundo ter três candidatos. 

Além do prefeito Pedro Almeida (PSD) que vem para a reeleição, há Márcio Patussi (PL), com o apoio do Republicanos e Podemos, e outro candidato que representaria os partidos de centro-esquerda e esquerda, que pode ser o médico Júlio Stobe. Alguns petistas ainda sonham com uma união com o PDT, mas a maioria entende que não passa de um sonho...

Arestas

Porém, a grande dúvida paira em torno do PSDB, que pode vir com Patussi, sozinho ou com a atual administração. O presidente do partido, Rodrigo Borba, nega, mas sabe-se que esse foi o principal assunto de um café no último final de semana entre ele, o secretário Mateus Wesp (PSDB) e o deputado Luciano Azevedo (PSD), que sem dúvida, será o grande articulador da candidatura de Pedro Almeida, o que passa inclusive pela definição do vice...

Segundo Borba, a conversa foi para alinhar assuntos junto ao governo do Estado, mas entre um alinhamento e outro, o deputado Luciano teria reforçado o convite para o PSDB ingressar no governo Pedro. A conversa teria servido também para aparar algumas arestas, já que Wesp não disfarça a insatisfação pelo fato das conquistas dele junto ao governo do Estado não virem ganhando o devido reconhecimento da atual administração. 

Aparadas as arestas, o PSDB reforçou que não pretende ingressar no governo, até porque quer ficar livre para vir com quem quiser e como quiser em 2024.

Camisa 10

Por “com quem quiser” entenda-se o nome Mateus Wesp, que oficialmente continua sendo apresentado como o possível candidato do partido, solo ou não, e correndo por fora, mas quase dentro, o nome do vereador Saul Spinelli, que ainda é PSB, mas praticamente está com os dois pés no PSDB. 

Segundo Borba, Saul é “camisa 10” em qualquer eleição, o que faz com que todos os partidos disputem o passe dele. Por isso, se estranha que o prefeito Pedro não tenha mantido um político com tal potencial eleitoral no seu secretariado, inclusive trabalhando como seu possível vice... 

Já Saul está cobrando uma definição do PSB quanto a majoritária. Por enquanto, diz que pode vir à prefeito, à vice ou à nada.

Dobradinha P-P (?)

A explicação para a resistência ao nome de Saul como vice pode ser o fato do vice “dos sonhos” de Pedro e Luciano responder pelo nome de Adolfo Freitas, procurador do município, o que poderia se confirmar se Pedro estivesse “nadando de braçada” nas pesquisas feitas até agora. Porém, o entendimento é que o vice precisa agregar votos. 

Em nome disso, o vice dos sonhos de Luciano Azevedo passou a ser Márcio Patussi. A possibilidade já teria ganhado até a “benção” do presidente do PL-RS, deputado Giovani Cherini, mas não a “benção” de Pedro Almeida, que resiste à ideia. 

Na negociação estaria o apoio da administração municipal à candidatura de Patussi à deputado estadual em 2026. Será que teremos uma dobradinha Pedro-Patussi em 2024? Não seria a primeira vez que Luciano optaria por indicar um vice que permanece até o metade do mandato, não se habilitando como sucessor natural, o que já aconteceu em sua gestão com o vice Juliano Roso (PCdoB). Portanto, pelo retrospecto, tal possibilidade pode até ser improvável, mas não impossível.

Entre em contato com a colunista pelo e-mail: nhartmann@upf.br

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