
O enterro da adolescente Paola Rodrigues, de 13 anos, nesta quarta-feira (6), pode aprofundar a disputa entre grupos rivais na terra indígena de Cacique Doble, no norte do RS. Agora, a família da jovem pede por justiça pelo assassinato depois de um ataque a tiros na noite de segunda-feira (4).
— Estou passando um momento de muita dor por perder uma filha e tão nova. Ela não merecia, era uma criança, uma menina tão feliz, tinha a vida toda pela frente. As professoras e coleguinhas na escola adoravam ela, vai fazer muita falta para eles também. Eu não quero vingança, mas queremos que a justiça seja feita, confio nisso — disse Dejanira Zenis, mãe da adolescente.
De acordo com o comandante do 10º Batalhão da Brigada Militar, tenente-coronel Luiz Fernando Becker, a situação em Cacique Doble está estável, mas há preocupação sobre os conflitos que podem acontecer nos próximos dias, depois do enterro de Paola.
— A morte dela em si já causou o aumento da tensão na reserva e o enterro acaba selando isso. Como esses problemas vêm de tempos, a gente não tem uma visão que vá findar o conflito momentaneamente — afirma Becker.

O enterro de Paola estava programado para as 9h desta quarta-feira (6), mas foi adiado depois que membros do grupo adversário teriam atacado com pedras as pessoas que abriam a cova da menina. Segundo uma familiar, o caminho para o cemitério da terra indígena passa por onde vivem membros do grupo beligerante. Por causa disso, uma nova cova foi aberta em outro setor da reserva, onde Paola foi sepultada por volta das 11h.
Enquanto isso, o 3° Batalhão de Polícia de Choque e a Força Nacional seguem com o policiamento da área, que vive uma disputa pelo cacicado. A Polícia Federal é responsável pela investigação do assassinato. O delegado Iuri de Oliveira colheu depoimentos durante a terça-feira sobre o ocorrido. Até agora, ninguém foi preso e os agentes já deixaram o local. A reportagem tentou contato com a PF, que informou que não se manifesta sobre investigações.
Paola deixa os pais e quatro irmãos, além de tios e primos. O irmão da jovem, 23 anos, que ficou ferido no ataque da última segunda-feira, pediu para ser liberado do hospital em que estava internado, no município vizinho de São José do Ouro, para participar do velório e sepultamento da irmã. Outra irmã de Paola, de 15 anos, segue internada em estado estável.
Conflito recorrente
A segurança na reserva indígena de Cacique Doble ganhou reforço na terça-feira, depois do conflito que resultou na morte da adolescente. Dois irmãos da Paola também foram atingidos e ficaram feridos após o ataque a tiros na noite de segunda (4). De acordo com familiares, os três estavam dentro de casa quando foram surpreendidos por um grupo que invadiu a residência e atirou.

A suspeita é de que o crime tenha relação com a disputa pela liderança da reserva indígena de Cacique Doble. Na madrugada do último sábado (2), pelo menos 13 casas foram incendiadas durante um confronto no município. Houve feridos após troca de tiros, de acordo com a Brigada Militar de Lagoa Vermelha.
Em 23 de novembro, ao menos cinco pessoas ficaram feridas durante briga e confronto com arma de fogo e, no fim de outubro, três pessoas foram presas em uma operação da Polícia Federal que buscou restabelecer a ordem e apurar crimes cometidos em meio à disputa de dois grupos pela liderança do local.
Em 1º de novembro, um novo líder foi eleito. A decisão aconteceu depois que o antigo cacique, Leonardo Manoel Antonio, foi preso em uma operação policial.