Um levantamento da Coordenadoria Municipal de Defesa Civil mostra que Passo Fundo tem sete bairros com risco de alagamentos e inundações. Os bairros Entre Rios, Santa Maria e Manoel Portela são categorizados como de alto risco. O risco é menor, mas existe, nos bairros Vila Luíza, Zachia, Hípica e Vera Cruz.
A prefeitura começou, neste ano, a elaborar um plano de contingência para esse tipo de evento. Em fase de construção, o documento deve prever a resposta imediata do município a determinadas situações.
Não há prazo para o plano ser finalizado. Um novo ciclone extratropical influencia o clima do Estado nesta semana, com expectativa de chuva intensa, tornando real o risco de estes bairros serem afetados.
Conforme o coordenador municipal, Jair Leandro Maffi, a Defesa Civil monitora a situação nos bairros com maior risco, com orientações a moradores para que permaneçam em alerta nos dias de chuva intensa, para que, se preciso, saiam de casa para abrigos ou para casas de parentes.
— A Defesa Civil é composta por várias secretarias municipais. Em caso de necessidade em momentos de ciclone, por exemplo, acionamos as demais secretarias da administração municipal. Periodicamente, também são feitos processos de desobstrução e limpeza dos rios que passam dentro da área urbana e de bueiros, o que minimiza o risco de alagamentos — pontua Maffi.
Além do levantamento da Defesa Civil, dados do AdaptaBrasil, plataforma do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), colocam Passo Fundo e outros 58 municípios gaúchos em patamar de alto risco para ameaça de inundações, enxurradas e alagamentos. O sistema reúne índices e indicadores de risco de impactos das mudanças climáticas no Brasil.
Problema climático e social
Com a atuação do fenômeno El Niño, como ocorre atualmente, os eventos climáticos extremos ficam ainda mais frequentes, o que aumenta a vulnerabilidade de áreas sensíveis a alagamentos — é o que pontua o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha. De acordo com ele, os problemas giram em torno de dois eixos: o climatológico e o social.
— Não adianta só olhar para o clima sem ver a vulnerabilidade das pessoas. O clima é atrelado à pobreza, à habitação em lugares inadequados, ocupações inseguras e irregulares. Se o município já possui mapeados esses locais, eles requerem mais atenção, principalmente nas primaveras de anos de El Niño — pontua.
Para Cunha, uma vez que mudar as condições climáticas não é uma possibilidade, resta a adaptação para condições que podem se tornar ainda mais extremas futuramente:
— Em Passo Fundo, qual a capacidade de convivência com a variabilidade climática? Independentemente dos fenômenos, essas regiões já são vulneráveis pela questão geográfica e pela condição social. Isso passa pelas ações de defesa civil. Nós temos visto mais ações pós-desastre do que pré-desastre. A Defesa Civil precisa ser preventiva, mas é mais difícil essa aceitabilidade.
Preparação da Defesa Civil
As prefeituras são as responsáveis pela estruturação da Defesa Civil, a partir da definição de uma equipe de servidores. Também pode ser criado um conselho municipal, para que Legislativo, Executivo e associações comunitárias trabalhem juntos na tomada de decisões pela segurança e assistência à população.
Com o objetivo de capacitar as prefeituras, a Coordenadoria Regional de Defesa Civil (CREPDEC) promove treinamentos para os 76 municípios da sua área de abrangência. Conforme o coordenador regional da 2ª CREPDEC, Major Darci Bugs Júnior, Passo Fundo sempre tem um representante nos encontros, mas isso não ocorre com todas as cidades.
— Tem municípios que não comparecem, mas a gente tem a obrigação de repassar a eles o conhecimento. Nos municípios da nossa região, a Defesa Civil não é bem estruturada. A gente percebe que as coordenadorias são compostas por uma pessoa, que já está sobrecarregada, e acaba dificultando — relata o coordenador regional da 2ª CREPDEC, Major Darci Bugs Júnior.
Segundo ele, a coordenadoria trabalha há anos em um processo de convencimento da importância da Defesa Civil, para que a atuação nos municípios seja feita para prevenir, não somente após ocorrências de desastre.
— Neste último ciclone a gente viu que alguns municípios em 30 horas já tinham recursos depositados em suas contas, pela organização. Outros foram procurados por nós antes e não nos deram atenção, só conseguiram decretar emergência dias depois. Isso nos frustra, porque tentamos estruturar a Defesa Civil nos municípios, mas só nos procuram em momentos como esse — desabafa Bugs.
Emergências
Em casos de emergência, a população pode telefonar para o 190 ou 193. Para receber alertas da Defesa Civil do Rio Grande do Sul por mensagem de texto, basta enviar um SMS com o CEP da sua região para o número 40199.