Um dos maiores ícones do futebol gaúcho está completando 50 anos nesta sexta-feira (18). Sandro Sotilli, literalmente marcou gerações. Ele fez história do fim dos anos 1990 até 2014 como jogador de futebol, atuando pelos principais clubes do interior do Rio Grande do Sul, se tornando no maior artilheiro da história do Gauchão com 111 gols.
Por outro lado, a garotada mais jovem que não o viu jogar também o conhecem bastante. Só que por conta das redes sociais.
Atualmente, ele vive em Passo Fundo com a sua família. Nas ruas da cidade, Sotilli é facilmente reconhecido. Em entrevista para GZH, o ex-atleta revelou que já está adaptado a nova realidade da sua vida. Depois de 20 anos atuando como jogador, hoje ele dedica seu tempo como influenciador digital.
Hoje, Sotilli conta com 846 mil seguidores no Facebook e 411 mil no Instagram. Os perfis trazem memes, principalmente com a dupla Gre-Nal como foco principal, mas alguns brincam com os tempos em que Sotilli era jogador.
— Não tenho saudades de jogar futebol. O futebol agora para mim é diversão e estou desfrutando disso. Eu gosto de assistir com os amigos, de jogar, tomar uma cerveja, comer uma carne. Tudo o que eu podia ter feito quando era jogador, eu fiz. Hoje quando me convidam para jogar um campeonato de veteranos eu não faço questão porque não estou mais com o espírito competitivo — revelou.
A vida como influenciador
Como atleta, Sotilli era bastante conhecido no Estado. Seus gols nos finais de semana eram presença certa nos noticiários esportivos da época. Porém, ele considera que nunca foi tão conhecido quanto é nos dias de hoje com a sua presença na internet.
— Com certeza sou muito mais conhecido hoje. A facilidade e o alcance são maiores, tem um público maior. Eu digo que a gente atingiu um público que me viu jogar e também a gurizada que acompanha pelas redes sociais, pelos memes e brincadeiras, por tudo aquilo que eu já fiz.
Parte do sucesso nas redes sociais se deve também pela linguagem adotada no seu perfil. Gírias e costumes típicos dos gaúchos são temas frequentes e Sotilli adotou isso na sua vida particular.
— As pessoas gostam que a gente fale disso. Porque, de uma maneira ou de outra, jogaram futebol num potreiro ou no meio das rosetas com pés descalços. O povo gaúcho é muito bairrista, gosta de valorizar o linguajar daqui. Eu chego num evento e cumprimento o cara falando: “E aí, piá”. Isso aproxima como um amigo e parceiro.
Apesar de não ter saudades de jogar futebol, Sandro Sotilli não esconde o sentimento de nostalgia quando recorda de momentos importantes da sua carreira como atleta. Ao todo, Sotilli passou por 25 clubes, sendo 17 no Rio Grande do Sul.
— Faço eventos no interior em cidades diferentes e em lugares que só joguei contra. Mesmo assim, as pessoas têm carinho especial por mim e pela minha história. Não levaram como rivalidade. Elas lembram de lances que eu não tinha na memória.
A carreira como influenciador não exige esforço físico, mas Sotilli garante que precisa ter a mesma dedicação. Afinal, os fãs esperam a atenção do ídolo, que participa de aproximadamente 100 eventos por ano com a nova carreira.
— As duas vidas são muito boas. Eu gostava de me dedicar e ser cobrado no futebol. Quando tem cobrança, é porque você é capaz de responder. Hoje nas redes sociais é diferente. Quando vou nos eventos, preciso dar o meu melhor, que é dar atenção para as pessoas. Às vezes, você não está com bom humor, mas você tem que levar a alegria pra elas, tirar fotos com sorriso. É simples, mas para que está no outro lado faz diferença — disse Sotilli que relembrou uma situação que ficou marcado em sua memória:
— Uma vez fiz um evento com Adriano Gabiru e Perdigão e chegou um senhor de idade e perguntou para o Gabiru se podia beijar os pés dele. O Gabiru relutou, mas o senhor se ajoelhou e beijou os pés do Gabiru. Ele disse que aquele pé foi o motivo de um dos dias mais felizes da minha vida [o gol do título Mundial do Internacional, em 2006]. Aí você vê o quanto o esporte mexe com as pessoas. A gente está do outro lado não imagina o que as pessoas vivenciaram naquele dia — contou
Estrela do futebol do interior
Além de ser o maior artilheiro da história Gauchão, “o Alemão Matador” teve outras marcas importantes. Ele foi artilheiro do Gauchão em 2002, quando jogava pelo 15 de Novembro, de Campo Bom, com 21 gols e também em 2004 pelo Glória, de Vacaria, quando balançou as redes 27 vezes. Além disso, foi campeão estadual com o Juventude, em 1998.
— O Campeonato Gaúcho para mim foi uma Champions League. Até hoje me perguntam como aquele time foi campeão em 98, de forma invicta. Os gols do acesso pelo Pelotas, duas vezes goleador do Gauchão. São algumas marcas pessoais que nunca imaginava que um dia pudesse acontecer e hoje as pessoas me reconhecem por isso. Sabem o quanto é difícil fazer um gol. Imagina 111. Hoje, eu posso olhar para trás e dizer que tudo valeu a pena — disse Sotilli, que ainda recordou de outros momentos marcantes de sua carreira:
— Até o próprio Passo Fundo, quando subiu para a primeira divisão em 2012, a cidade toda mobilizada. No Pelotas da mesma forma. Isso tudo marca e no dia que acontece você não percebe a grandeza daquele feito.
Quando era profissional, Sotilli era acostumado a jogar em gramados precários, com buracos, rosetas e dividindo espaço com os quero-queros, fatos que viraram memes na sua rede social. Hoje, a realidade do futebol do interior é diferente. A maioria dos campos de futebol oferecem condições melhores do que nas décadas anteriores.
Quem nunca jogou com um ninho de quero-quero no campo?
SANDRO SOTILLI
Ex-jogador de futebol
— Os campos do interior melhoraram bastante. Mas na nossa cultura do RS, as rosetas e os quero-quero nos gramados são marcas registradas. Tinha que tirar e colocar no outro lado e tomar um rasante. Antigamente, para cortar o gramado tinha clubes que soltavam as vacas no campo — lembra.
Se por um lado a estrutura dos gramados do interior melhorou, por outro as dificuldades aumentaram. Pelo menos para os profissionais que trabalham para o futebol. Para Sotilli, os campeonatos mais curtos dificultaram a vida dos jogadores.
— O futebol gaúcho para os profissionais está muito difícil hoje. Melhorou em alguns aspectos, como condição de trabalho e visibilidade. Mas com relação a tempo de serviço piorou com os campeonatos muito curtos. Os jogadores, às vezes, trabalham três ou quatro meses por ano só para dizer que jogam. Tem jogadores que desistem de serem profissionais para terem uma estabilidade com suas famílias. Joga o Gauchão, mas em março já termina e muitos fazem outras coisas, outros até conseguem se empregar — destacou.
O jogador destacou que isso influencia nas arquibancadas tornando mais difícil o vínculo com os torcedores.
— O torcedor que vai no estádio tem que saber o nome de alguns jogadores. Hoje, no futebol do interior não tem jogadores muito identificados com o clube. Às vezes vou em alguns jogos e vejo a torcida chamando o jogador pelo número da camisa: ”Vamos lá, camisa 10”. Nem sabem quem são os atletas. Na minha época, todos já sabiam que o camisa 9 era o Sandro Sotilli. O camisa 3 era o zagueiro tal. Antes, tinha mais essa ligação. Hoje, por ser um campeonato muito curto, não consegue repetir isso — criticou.
Sonho de infância realizado
Natural de Rondinha, cidade localizada no norte do RS, Sotilli começou a carreira no Ypiranga, de Erechim, em 1992, quando tinha 19 anos. Ele vestiu a camisa do Canarinho até 1997, quando se transferiu para o Inter.
No colorado, ficou por um ano e em 1998 foi contratado pelo Juventude, onde teve a primeira grande conquista da sua carreira, que foi o título do Campeonato Gaúcho. Nessa época, ele já tinha realizado a maioria dos sonhos de infância.
— Alguns momentos que considero mais importantes. Primeiro, quando eu era criança tinha o sonho de ser jogador de futebol. Quando assinei meu primeiro contrato já foi uma realização. Depois sempre tive um sonho de escutar meu nome num telejornal ou passar no Globo Esporte e ver um gol meu na televisão. Acho que fui plantando isso quando tinha 12 anos e eu nem sabia o que iria acontecer — recordou Sotilli, que ainda destacou outro momento inesquecível:
— Foram 111 gols marcados no Gauchão, mas o meu primeiro gol como profissional foi contra o Internacional, quando estava no Ypiranga, em 1996. Esse foi muito marcante.
A ligação com o Internacional dentro dos gramados fez o coração do ex-jogador mudar de cor. Quando criança, Sotilli era gremista. No entanto, depois de atuar no Beira Rio, o sentimento mudou e virou colorado.
— Acho que conquistei tudo. Quando eu pensava quando criança era tudo aquilo que vivi. Para mim, o dia que eu tivesse um fusca e uma casa por eu trabalhar com o futebol, eu já estaria satisfeito. E o futebol me deu muito mais. Dentro de campo fiz tudo o que eu imaginava. Me sinto realizado pelo que fiz como atleta — ressaltou.
Na sua carreira, Sotilli teve passagens ainda pelo futebol chinês por duas temporadas e por clubes do México por três anos. Ele encerrou a sua carreira em 2014, jogando pelo Pelotas, um dos clubes dos quais mais se identificou.
Clubes onde jogou:
- 1992-1997 – Ypiranga
- 1996 – Taguá, de Getúlio Vargas
- 1997-1998 – Internacional
- 1998 – Juventude
- 1999 – Rio Branco-SP
- 1999 - Ceará
- 1999 – Caxias
- 2000 – Beijing Guoan (China)
- 2001 – Paulista
- 2002 – 15 de Novembro
- 2002 – Shaanxi Guoli (China)
- 2003 – 15 de Novembro
- 2004 - Glória
- 2004-05 – Necaxa (México)
- 2005-06 – Jaguares (México)
- 2007 – Dorados (México)
- 2007 – Club León (México)
- 2007 – Caxias
- 2008 – Pelotas
- 2008 - Veranópolis
- 2009 – Pelotas
- 2009 - São José
- 2010 – Chapecoense
- 2010 – Brasil-Far
- 2010 – Pelotas
- 2011 – Pelotas
- 2011 – São Paulo, de Rio Grande
- 2011 – Passo Fundo
- 2011 – Pelotas
- 2012 – Pelotas
- 2012 – Passo Fundo
- 2012 - São Luiz
- 2013 - Gaúcho
- 2013 – Marau
- 2014 - Pelotas