Filha mais velha, a artesã Geni Trewicvenski, 65 anos, precisou trocar as brincadeiras de criança pelo cuidado dos sete irmãos durante a infância. Mas a vida lhe reservou uma reviravolta: anos mais tarde, ela viu nos brinquedos, em especial as bonecas, uma oportunidade de empreender e transformar a própria realidade.
Tudo começou em 2012, quando Geni foi convidada para um aniversário e se viu sem dinheiro para comprar o presente. Como era costureira, fez 15 vestidos para as bonecas do tipo Barbie, empacotou e entregou em um embrulho bonito para a aniversariante.
— Quando a família chegou em casa, a menina quis vestir todas as bonecas com as roupinhas e ficou muito empolgada, ela amou — lembra Geni.
A artesã, que na época trabalhava como costureira, fez os 15 vestidos para o presente e pelo menos mais 30, na empolgação. A aniversariante gostou tanto que se ofereceu para comprar as roupinhas que ficaram e daí surgiu a ideia de negócio.
A virada de chave
Primeiro, dona Geni começou a vender na porta de escolas. Onze anos depois, ela faz sucesso em feiras de artesanato em Passo Fundo e outras cidades da região, como Ijuí, Erechim e Carazinho.
A artesã faz roupas sob medida, ajeita o cabelo, restaura o corpo e faz todo o trabalho necessário para bonecas — uma oportunidade de brincar, virar criança de novo e dar vazão à criatividade em um negócio que, segundo ela, é mais prazer que trabalho.
— O que me deixa mais feliz é ver uma criança chegar perto das roupas e ficar entusiasmada, querer brincar com aquilo. Eu sempre digo para todo mundo: o que eu mais faço é brincar no meu trabalho. Brinco de boneca todos os dias, é maravilhoso vestir elas, arrumar, pentear. E por isso procuro incentivar as crianças a fazer o mesmo e sair da frente do computador.
Nova vida à infância
Todas as peças, desde casacos e blusões até calças e roupas íntimas, são feitas para divertir as crianças. Os materiais utilizados são retalhos que sobram da loja de roupas da filha, que tem uma confecção própria em Passo Fundo.
— Tudo vem das sobras da fábrica, mesmo. O que ia para descarte, eu aproveito. Compro pouquíssima coisa para produzir as roupinhas, é só o essencial para fazer o acabamento, mesmo — conta.
É “do lixo ao luxo”, como ela brinca, que transforma retalhos em possibilidades e dá nova vida à própria infância.
— Eu sinto o maior prazer em fazer isso. Se tem algo a ver com a minha vida? É possível que sim. No fundo sempre tem, né? — finalizou.