Por José Eloir Denardin, Pesquisador da Embrapa Trigo
Na região de clima subtropical, predominante no Sul do Brasil, chuvas intensas e de longa duração, embora mais frequentes nos anos de El Niño, podem ocorrer em qualquer dia do ano, inclusive em anos de La Niña. De modo similar, períodos de estiagem, embora mais frequentes nos anos de La Niña, podem ocorrer em anos de El Niño e também nos anos neutros, com ausência desses fenômenos relativos à pluviosidade. Isso significa que a ocorrência de enxurrada e de estiagem são fatos rotineiros e sem previsões assertivas.
Por esse motivo, tanto chuvas intensas, com geração de erosão hídrica, quanto a escassez de chuva, com geração de déficit hídrico, são fatores de risco ao desempenho agrícola, ditados por probabilidades e incertezas que requerem medidas de precaução. Nesse contexto, o desenvolvimento e a adoção de tecnologias de cunho conservacionista remetem à prevenção de riscos decorrentes da enxurrada e, por consequência, da estiagem.
O potencial erosivo da chuva se expressa tanto pela ação de impacto das gotas de chuva que tocam a superfície do solo quanto pela energia da água da chuva não infiltrada que fluí na superfície do solo com ação de arraste. A energia de impacto produzida pelas gotas de chuva, com poder de dispersar e transportar partículas de solo, é prevenida pela tecnologia da cobertura do solo. A energia de arraste produzida pela enxurrada, com poder de remover a cobertura do solo, dispersar e transportar partículas de solo, é prevenida pelas tecnologias que impõem barreira ao escoamento da enxurrada.
Diante do exposto, é evidente que a enxurrada é o principal e o mais relevante agente responsável pelo processo erosivo que ocorre em talhões de lavouras manejadas sob Sistema Plantio Direto. Práticas conservacionistas, como semeadura em contorno e terraço agrícola, são exemplos de tecnologias de cunho hidráulico, eficazes para seccionar o comprimento das vertentes ou impor barreira ao escoamento da enxurrada ao longo das vertentes. Essas práticas conservacionistas maximizam a retenção da água da chuva pelo solo, armazenando-a e disponibilizando-a para as plantas nos períodos de estiagem.
A água retida por essas tecnologias de cunho hidráulico infiltra no solo, irriga a área a jusante do talhão e demora cerca de três ou mais meses para atingir o lençol freático e, em decorrência, alimentar os mananciais hídricos, inclusive aqueles de superfície. É água útil. De modo oposto, a água que escoa em sulcos ou em entre sulcos sem a adoção dessas tecnologias de cunho hidráulico, não é armazenada no solo, não serve às plantas, não abastece o lençol freático e, em poucos minutos, atinge os mananciais de superfície, poluindo, contaminando e causando danos econômicos, ambientais e sociais, que, na prática, são imensuráveis. É água perdida.
Diante dos fatores impostos pela oscilação pluvial recorrente na região subtropical do Brasil, o Sistema Plantio Direto, detentor de tecnologias exclusivamente de cunho vegetativo, exige a adoção de tecnologias complementares de cunho hidráulico que promovam, ao máximo, a retenção da água da chuva onde ela cai, seja para prevenir ou amenizar a erosão hídrica, seja para armazená-la e disponibilizá-la às plantas nos períodos de estiagem.
É importante lembrar que as tecnologias de cunho hidráulico são dimensionadas para prevenir e/ou amenizar problemas relativos a eventos pluviais extremos de determinada dimensão. Quando da ocorrência de eventos pluviais com dimensões que extrapolam às dimensões projetadas o problema não será plenamente solucionado, mas poderá evitar efeitos catastróficos.
É preciso começar agora a busca pela estabilização das colheitas diante das oscilações pluviais.
Entre em contato com José Denardin através do e-mail: jose.denardin@embrapa.br