Fabiano De Bona, pesquisador da Embrapa Trigo
O ser humano carrega em sua essência duas características que se retroalimentam: a curiosidade ou avidez pelo novo e a sensação de nunca estar plenamente satisfeito com o que possui.
Obviamente existem fases da vida em que não caímos nesse ciclo vicioso, mas são apenas exceções dentro da grande regra. Isso é tão verdade que a obsolescência programada dos produtos modernos é aceita com satisfação por quase todos nós, meros mortais. O mercado capitalista cresceu e frutificou nesse terreno fértil da fraqueza humana.
No meu campo de trabalho, a agricultura, nós (agricultores e técnicos) também estamos imersos nessa bolha de pensamento que mescla consumismo, ansiedade e competição desenfreada.
Os mercados de commodities e insumos agrícolas, interconectados, e a velocidade da internet acentuam ainda mais o nosso desejo por novos produtos para o campo que nos façam aumentar a produtividade das culturas agrícolas, cada vez mais e mais. E é nesse ponto da história que “mora o perigo”.
Ávidos por novidades, muitos agricultores têm esquecido da ciência, da extensão rural e da consultoria dos bons profissionais da Agronomia, para apostar em insumos alternativos sem eficiência agronômica comprovada, que prometem revolucionar a produção das lavouras.
Se o marketing desses produtos mirabolantes é extraordinário e a “tecnologia” prometida chega a comover até o doutor mais experimentado, o mesmo não pode ser dito em relação aos resultados práticos de pesquisa, que quase sempre são pouco claros ou de procedência científica duvidosa.
Princípios básicos
O princípio básico da ciência é testar a hipótese positiva (de que determinado insumo aumente a produtividade das plantas cultivadas) de todas as maneiras possíveis, no intuito de falseá-la. Caso não consiga ser falseada, tem-se a comprovação de que estamos diante de algo novo com eficiência agronômica atestada.
A partir dessa inovação disruptiva, empresas sérias iniciam a fabricação de insumos de qualidade técnica para a venda ao consumidor, pois há a certeza que o produtor está pagando por algo que faz a diferença no campo.
Embora o agricultor tenha o livre arbítrio para gastar o seu dinheiro com o insumo agrícola de sua escolha na propriedade rural, a aquisição de produtos agrícolas de eficiência agronômica não-validada prejudica o homem do campo.
Isso porque os custos de produção aumentam, a produtividade da cultura agrícola não se altera e, não raro, gera competição por parcos recursos financeiros que poderiam ser investidos em infraestrutura ou insumos de qualidade, os quais, comprovadamente, incrementam a produção agrícola da lavoura.
Fabiano Daniel De Bona é doutor em Solos e Nutrição Mineral de Plantas e pesquisador da Embrapa Trigo. Entre em contato através dos e-mails trigo.imprensa@embrapa.br e fabiano.debona@embrapa.br.