Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
A podridão do cérebro. Essa é a tradução da expressão brain rot, escolhida como palavra do ano de 2024 pelo dicionário da Universidade de Oxford. Ela representa a suposta deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente como consequência do consumo excessivo de conteúdo (principalmente online) considerado trivial ou pouco desafiador. Em tempos de internet e redes sociais, isso faz muito sentido. Porém, essa expressão já tem 170 anos e surgiu em 1854, quando o escritor Henry David Thoreau publicou o livro Walden. Nele o autor relata os dois anos, dois meses e dois dias em que viveu isolado à beira de um lago nos Estados Unidos. Ele cunhou o termo para caracterizar — e criticar — a tendência da sociedade de desvalorizar ideais complexas em favor das mais simples.
No Brasil a palavra do ano é ansiedade, de acordo com uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Ideia. Em um contexto desafiador do ponto de vista de saúde mental, é compreensível que esta seja a palavra mais votada no país mais ansioso do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 9% da população brasileira sofre com essa condição, o que significa mais de 18 milhões de pessoas. Estudos específicos do Brasil dão conta de que esse número pode chegar a 25% da população.
Que 2025 nos traga essa consciência: a tecnologia é uma ferramenta poderosa e precisa ser usada de forma adequada
Existe a relação entre as duas palavras? Existe, é comprovada e muito preocupante. Resultados de pesquisa publicada em 2024 no Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences indicam que o uso excessivo de mídias, a forma de utilização e a dependência podem desencadear sintomas de ansiedade, depressão, distúrbios do sono e comprometimento da saúde física. Já o relatório Panorama da Saúde Mental, do Instituto Cactus e da AtlasIntel, divulgado em junho de 2024, revela que, das pessoas que passaram três horas ou mais por dia nas redes sociais, 43,5% possuem diagnóstico de ansiedade.
Que 2025 nos traga essa consciência: a tecnologia é uma ferramenta poderosa e precisa ser usada de forma adequada.