Vêm da ciência, já há algumas décadas, os alertas cada vez mais reiterados e contundentes sobre o aquecimento global e suas consequências para a vida na Terra. Populações de várias partes do planeta, como os habitantes do Rio Grande do Sul, têm provas suficientes de que as advertências não eram alarmismo exagerado. A sequência de secas, temporais violentos e enchentes nos últimos anos no Estado está aí para mostrar que algumas ameaças imaginadas para um futuro distante estão materializadas no presente. Nada mais indicado, portanto, do que começar a prestar mais atenção no que os cientistas têm a dizer.
Caberá também à sociedade acompanhar se o grupo de cientistas convocado conseguirá, de fato, ter a influência a que se propõe
Neste contexto, age corretamente o governo gaúcho ao instalar o Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática. Será uma instância formada por 43 pesquisadores e especialistas em diversas áreas, de instituições gaúchas, de outros Estados e até do Exterior. A intenção existia desde o ano passado. Foi manifestada após a cheia de setembro. Efetiva-se agora, depois da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, com desdobramentos sociais e econômicos ainda não totalmente mensurados.
O comitê integra o Plano Rio Grande, criado pelo Piratini para ações de curto, médio e longo prazo relacionadas a reconstrução e adaptação do Estado frente à perspectiva de eventos meteorológicos extremos mais seguidos e potentes daqui para a frente. Será um órgão com funções consultivas e propositivas acerca de projetos e políticas públicas nas mais diversas dimensões, da economia à saúde. Mas a última palavra para levar adiante, modificar ou arquivar qualquer ideia permanece com o Executivo.
Embora a iniciativa mostre-se oportuna e relevante, ainda poderia ser aperfeiçoada. O mais indicado, por exemplo, seria a garantia da existência de um colegiado do gênero que atravessasse diferentes gestões, imune à alternância de poder própria das democracias. Assim, teria o espírito de um projeto de Estado, e não de governo, importante para não sofrer com descontinuidade. A adaptação às mudanças climáticas nunca será uma obra pronta.
Caberá também à sociedade acompanhar se o grupo de cientistas convocado conseguirá, de fato, ter a influência a que se propõe. Assim como a capacidade de produzir consensos. No cenário ideal, com o passar do tempo, se mostrará uma instância capaz de ajudar em boas propostas e políticas e também ser ouvida sempre que precisar advertir sobre iniciativas ou proposições legislativas temerárias. Seria desapontador e trágico se, com o passar do tempo, o comitê acabasse perdendo relevância, como outros conselhos que costumam ser instalados por diferentes governos.
As decisões tomadas hoje repercutirão no futuro. Está nas mãos da geração atual escolher que Rio Grande do Sul será legado para os gaúchos das décadas vindouras. Espera-se que a opção seja por construir as condições para um Estado capaz de seguir prosperando, a despeito das incertezas do clima.