As prisões de suspeitos de ligação com o mega-assalto realizado na quarta-feira da semana passada, no aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul, indicam um bom progresso nas investigações, comandadas pela Polícia Federal (PF). Até o início da noite de ontem, eram cinco homens detidos. Firma-se ainda a convicção de que o Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção do país, tomou parte no planejamento da ação.
A ousadia e a gravidade do ataque, que também resultou na morte do segundo-sargento da Brigada Militar Fabiano Oliveira, 47 anos, pelos bandidos, elevam a importância de o caso ser totalmente elucidado, e os envolvidos, presos e condenados. O roubo e o assassinato não devem restar impunes. Espera-se também que os R$ 15 milhões levados sejam recuperados.
A ousadia e a gravidade do ataque elevam a importância de o caso ser totalmente elucidado, e os envolvidos, presos e condenados
A vinculação com o PCC é feita por elementos como a ligação conhecida do criminoso morto no dia do assalto com a facção de origem paulista. Também pela prisão no interior de São Paulo de outro homem, considerado um dos líderes do grupo, em um veículo empregado na fuga. Esse contexto dá mais relevância ao caso, uma vez que a mesma organização é suspeita de outros assaltos de grandes proporções, inclusive em aeroportos, em que teriam amealhado mais de R$ 300 milhões.
Há bastante tempo o PCC não é mais um grupo que opera o tráfico de drogas ou de armas. Está cada vez mais sofisticado. A facção expande seus tentáculos de forma territorial e em novos negócios, muitos de fachada, que usa para lavar dinheiro. Assaltos como o realizado na Serra também são utilizados para financiar outras operações e até sustentar familiares de líderes presos. Em abril, veio a público que a organização controlava duas empresas de ônibus que fazem o transporte público na cidade de São Paulo. Há duas semanas, uma nova operação mostrou que o PCC também era proprietário de dezenas de pequenos hotéis na capital paulista. Sabe-se também que, em vários Estados, há inquéritos que investigam a investida de facções no ramo de apostas online.
O cerco à maior organização criminosa do país não pode ter trégua. O enfrentamento esperado pela sociedade deve contar com a integração entre forças policiais de diferentes Estados, em associação com órgãos federais. É essencial apostar na inteligência, antecipando-se aos passos de seus membros, e dar atenção à asfixia financeira do grupo, com bloqueio de contas e sequestro de bens, detenção e isolamento das lideranças. Outra tendência que requer extremo cuidado é a infiltração em instituições públicas.
O Rio Grande do Sul assiste, nos últimos anos, a uma queda consistente nos índices de criminalidade. Essa constatação está longe de significar que a guerra contra a delinquência foi vencida. O ataque aos dois carros-fortes em Caxias do Sul, o maior assalto já visto no Estado, demonstra o poderio e a capacidade de organização dessas megaquadrilhas. Cabe às polícias estaduais, à Polícia Federal e aos ministérios públicos uma resposta à altura do atrevimento e a continuidade dos esforços para sufocar as facções.