Ainda que possa ser interpretada como bravata de rede social, como tantas que são divulgadas rotineiramente no território livre das plataformas digitais, a ameaça de execução do ministro Alexandre de Moraes merece investigação criteriosa da Polícia Federal para que os autores sejam devidamente identificados e responsabilizados. As revelações feitas na última quinta-feira pelo próprio ministro, em entrevista ao jornal O Globo, são estarrecedoras: um dos planos dos golpistas que depredaram as sedes dos três poderes em Brasília era prendê-lo, levá-lo para Goiânia e desaparecer com o corpo no meio do caminho. Outros mais exaltados planejavam enforcá-lo na Praça dos Três Poderes.
Para quem acha que tais postagens não passam de brincadeira, não custa lembrar que muitos registros e mensagens de internet desconsiderados pelas autoridades já precederam crimes hediondos em várias partes do mundo. Um caso relativamente recente ocorreu no Texas, em 2022, quando um jovem matou 19 crianças e dois professores numa escola depois de avisar na sua rede social que faria o ataque. O mesmo aconteceu com o adolescente que matou uma aluna cadeirante em Barreiras, na Bahia, no mesmo ano. “Se eu matar pelo menos dois, já vou estar feliz”, postou ele numa rede social na véspera, sem que ninguém o levasse a sério.
Para quem acha que tais postagens não passam de brincadeira, não custa lembrar que muitos registros e mensagens de internet desconsiderados pelas autoridades já precederam crimes hediondos em várias partes do mundo
O mundo da internet e o mundo real estão cheios de casos semelhantes. Por isso, as ameaças feitas ao ministro da Suprema Corte e a outras autoridades nacionais devem, sim, ser consideradas como reais. Principalmente a alusão à forca, cuja simbologia não pode ser ignorada: o instrumento medieval de pena capital vem sendo usado por extremistas de várias nacionalidades como símbolo de justiçamento contra seus inimigos e adversários políticos. Um exemplo recente ocorreu na antevéspera da invasão ao Capitólio por seguidores do ex-presidente Donald Trump, quando uma forca cenográfica foi instalada nas proximidades do parlamento norte-americano.
A ideia do enforcamento é a mais chocante, mas as outras revelações da entrevista são igualmente graves, principalmente a que se refere ao envolvimento da Agência Brasileira de Inteligência no golpe fracassado. Segundo o ministro, a Abin fazia o monitoramento de sua movimentação para, no momento oportuno, realizar a sua prisão. Os conspiradores contavam também com a adesão de parte das Forças Especiais do Exército para prender o magistrado e executá-lo.
Considerando-se esse contexto de ideias desarrazoadas e ameaças aparentemente quixotescas, mas que acabam estimulando o extremismo, não há como discordar do ministro quando ele aponta que foi um erro das autoridades da época permitir acampamentos em frente aos quarteis, com grupos pedindo golpe militar, defendendo a tortura e a perseguição de adversários políticos. Sabe-se, porém, que nem todos os integrantes dos referidos acampamentos compactuavam com a violência. Algumas pessoas, por ingenuidade ou ignorância em relação às intenções golpistas, queriam apenas manifestar seu patriotismo e seu inconformismo pelo resultado eleitoral. Por isso, a partir das novas revelações, espera-se uma investigação policial criteriosa e muito cuidado da Justiça para que somente os verdadeiros criminosos sejam sentenciados.