Este espaço tem em algumas oportunidades, ao longo deste ano, chamado atenção para a divulgação recorrente de indicadores econômicos melhores do que o esperado pelo consenso do mercado. Assim como fez no ano passado, especialmente em relação a atividade e emprego. Mais uma dessas surpresas positivas foi conhecida ontem. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou que o PIB do primeiro trimestre de 2023 avançou 1,9% ante o período de outubro a dezembro, enquanto as expectativas giravam em torno de 1,3%. Em relação ao mesmo intervalo do ano passado, o salto foi de 4%.
Grande parte do avanço de 1,9% no primeiro trimestre se deve ao espetacular desempenho da agropecuária
É um desempenho que deve ser celebrado. Afinal, desmancharam-se as previsões mais pessimistas que, em alguns casos, incluíam até a possibilidade de uma recessão em algum momento. Outra vez deve ser lembrado: assim como no ano passado. Não se trata, afinal, de um número abstrato, mas um sinalizador que ao fim significa a possibilidade concreta de os brasileiros – empresários e trabalhadores – terem melhores perspectivas de futuro em termos de negócios, emprego e renda.
Mesmo assim, sempre é importante passar uma lupa nos detalhes para verificar a qualidade desse crescimento e o que ele prenuncia. Grande parte do avanço de 1,9% do PIB se deve ao espetacular desempenho da agropecuária. O setor mais competitivo e dinâmico da economia brasileira teve uma expansão de 21,6% sobre o quarto trimestre de 2022. Os serviços (0,6%) e o consumo das famílias (0,2%) também avançaram, enquanto a indústria (-0,1%) e os investimentos (-3,4%) recuaram.
Mesmo que o resultado force novas revisões para cima nas projeções do PIB de 2023, para patamares até acima de 2%, é fácil perceber que não é um dinamismo espalhado entre os principais segmentos que formam o indicador. Segue basilar, portanto, que o Banco Central encontre condições para dar início, o mais breve possível, a um ciclo de corte do juro. Felizmente, os dados inflacionários também têm sido benignos. Com isso, as projeções de economistas e de instituições financeiras sobre a alta de preços até o final do ano, da mesma forma, têm diminuído. A aprovação do novo marco fiscal dá maior previsibilidade em relação à sustentabilidade das contas públicas e se soma à formação de uma conjuntura favorável à redução de uma taxa hoje em asfixiantes 13,75% ao ano. O próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, deu sinais recentes nesse sentido.
Mesmo que o PIB de janeiro a março tenha sido uma grata surpresa, ainda predominam previsões de desaceleração da atividade no decorrer do ano. A indústria brasileira permanece claudicante e pessoas físicas e jurídicas padecem com altíssimo nível de endividamento e inadimplência. Um alívio monetário, feito de forma responsável, seria capaz de dar novo ânimo aos demais setores da economia e trazer alívio a quem tem dificuldade de honrar seus compromissos financeiros. Juro alto também é um inimigo mortal dos investimentos produtivos, variável que apresentou uma queda forte no primeiro trimestre e é um preditor importante do comportamento futuro da economia.
Um cenário ideal contaria ainda com a aprovação de uma simplificação robusta do sistema tributário e com uma melhor postura do Palácio do Planalto quanto à articulação política, facilitando a governabilidade. Com reformas e apaziguamento, o país é capaz de crescer mais e melhor distribuir a geração de riqueza com a população.