Causam renovadas preocupações os resultados da avaliação aplicada no ano passado sobre proficiência em língua portuguesa nas escolas municipais e estaduais do Rio Grande do Sul. A apreensão é maior pela constatação de que o desempenho piora à medida que os estudantes avançam nas séries dos ensinos Fundamental e Médio. O processo de aprendizagem pressupõe acúmulo de conhecimento ao longo dos anos, mas não é o que se observa nesse caso, o que reforça a importância de medidas efetivas para combater a defasagem na assimilação de conteúdos evidenciada durante a pandemia.
A incapacidade de interpretar textos por certo vai se refletir na dificuldade de se colocar no mercado de trabalho
Conforme o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers), 46% dos alunos do 2º ano do Fundamental estão em um nível classificado como básico ou abaixo do básico na interpretação de textos. Essa deficiência vai aumentando. Passa para 49% no 5º ano, para 69,8% no 9° ano e chega a 72,7% na 3ª série do Médio. Ou seja, é altíssimo o percentual de jovens que têm dificuldade de encontrar a informação principal no que leem e de localizar a ideia predominante e as opiniões diferentes.
Muitos desses adolescentes, especialmente os que não forem para universidades, estão prestes a ingressar no mercado de trabalho. Mas a incapacidade de interpretar textos vai se refletir na dificuldade de se colocar no mercado. Ou então terá como consequência a possibilidade de encontrarem vagas apenas em postos que exijam menor qualificação e, por isso, remunerem menos. É o círculo vicioso da desigualdade social se perpetuando. As empresas, por sua vez, têm dificuldade de encontrar mão de obra com as habilidades mínimas que buscam. O resultado dessa equação também é uma economia menos produtiva, pelas deficiências na formação do capital humano, o que leva a um menor potencial de desenvolvimento do Estado.
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, os resultados também estão se transformando em informações que são usadas na adoção de estratégias e orientações aos professores, para que possam agir para superar as fragilidades detectadas e ter esperanças de mudar este quadro inquietante. A situação atual é o resultado de décadas de perda de qualidade do ensino público no Estado, por razões já amplamente discutidas. Não faltam diagnósticos, mas iniciativas efetivas para contornar essas dificuldades. Ao lado do empenho dos educadores, pais e comunidades têm de se aproximar das escolas para se somarem nesse esforço voltado a reverter esses índices preocupantes.
Nenhuma estratégia, no entanto, pode prescindir do incentivo à leitura e ao exercício da escrita. Apenas ensinar gramática não é suficiente. Idealmente, seria um hábito estimulado pelas próprias famílias, mas infelizmente essa não é a realidade em muitos lares, especialmente nos mais humildes. As políticas pedagógicas e as escolas, portanto, têm de dar maior atenção a esse ponto, ajudando alunos a descobrirem o prazer da leitura, o que logo adiante se refletirá na qualidade de textos, em menos erros de língua portuguesa e na capacidade de organizar ideias em uma redação. É um desafio ainda maior, sabe-se, pela concorrência exercida pelas redes sociais na atenção dos jovens. Mas tem de ser encarado. Caso contrário, as portas de um futuro melhor seguirão trancadas para parcela significativa das novas gerações.