A duplicação da BR-290, ao menos entre Eldorado do Sul e Pantano Grande, é uma causa que merece a mobilização da sociedade gaúcha. Assim como a cobrança para o restante do trecho, até Uruguaiana, na fronteira com a Argentina, receber maior atenção para passar a oferecer melhores condições de trafegabilidade. Trata-se de uma das mais importantes vias federais no Rio Grande do Sul e principal corredor para o trânsito de mercadorias entre o Brasil e a Argentina. Não é aceitável que, de São Paulo a Buenos Aires, seja o único trecho de pista simples e ainda tenha uma manutenção abaixo do razoável. Não é uma questão apenas econômica, mas de segurança para os usuários.
Será preciso um constante empenho político para garantir o fluxo de verbas necessário para o trabalho não ser interrompido e ter um ritmo razoável
As obras de duplicação de Eldorado do Sul a Pantano Grande começaram em 2015 e, desde lá, variam entre a paralisação completa e um avanço quase imperceptível. O andamento é ainda mais lento do que o observado na construção de uma segunda pista na BR-116, de Guaíba a Pelotas, iniciada em 2012. Onze anos depois, cerca de dois terços do trajeto estão concluídos. Já na principal ligação rodoviária entre os dois maiores países do Mercosul não há quase nada, a não ser duas ínfimas partes duplicadas junto a entroncamentos e passagens urbanas, além de alguns viadutos ilhados à beira da estrada, que mais parecem um monumento à incúria.
O governo Bolsonaro planejava fazer as obras do trecho em questão concedendo a rodovia. A gestão Lula, no entanto, demonstra a intenção de tocar a duplicação com recursos públicos. Se é essa a decisão, espera-se que os problemas de falta de recursos, um dos entraves à continuidade do projeto desde 2015, não voltem a se repetir. Será preciso um constante empenho político para garantir o fluxo de verbas necessário para o trabalho não ser interrompido e ter um ritmo razoável. É uma tarefa inadiável para a bancada gaúcha em Brasília desde já. A boa notícia é que o governo federal disponibilizou R$ 170 milhões para serem investidos em dois lotes ao longo deste ano.
O fato é que a BR-290, especialmente entre Eldorado do Sul e Pantano Grande, é uma rodovia saturada, com sinalização deficiente, irregularidades na pista e, por isso, cada vez mais perigosa. O movimento de caminhões, especialmente carregados de toras de madeira, é constante. No verão, o trânsito de turistas argentinos, que usam a estrada para chegar às praias do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, eleva em muito o fluxo e torna comuns os flagrantes de manobras arriscadas e ultrapassagens em pontos proibidos, aumentando o risco de acidentes. Dependendo dos dias e horários, é a lentidão que predomina. Chama atenção na reportagem publicada na superedição de Zero Hora a informação de que, em todo o ano de 2022, ocorreram 12 mortes devido a colisões frontais. Neste ano, até 23 de maio, já foram 11 vítimas fatais.
Duplicar e qualificar a BR-290 é essencial para melhorar a infraestrutura do Rio Grande do Sul. Idealmente, no entanto, os gaúchos teriam mais opções logísticas que atenderiam à potencialidade da economia gaúcha e desafogariam as estradas. O Estado, por exemplo, conta com trilhos de Uruguaiana a Porto Alegre, em um trajeto não muito diferente em relação ao da rodovia. É uma ferrovia subutilizada. A partir de Cachoeira do Sul, pelo Rio Jacuí, também existem condições naturais para ampliar o transporte fluvial. São alternativas, porém, que parecem a cada dia mais esquecidas e negligenciadas.