Em sua primeira reunião ministerial, na manhã do dia 6 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi claro com os seus colaboradores do primeiro escalão. Ressaltou que, embora não pretendesse criminalizar a política, sua equipe tinha obrigação de agir de maneira correta nas funções desempenhadas. “Quem fizer errado, sabe que tem só um jeito, a pessoa será convidada a deixar o governo da forma mais educada possível. E se cometeu algo grave, a pessoa terá que se colocar diante das investigações e da própria Justiça”.
A posição peremptória de Lula está agora à prova a partir da lista de suspeitas que envolvem o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, também deputado federal do União Brasil eleito pelo Maranhão. O presidente vai ouvir hoje as explicações do subordinado para decidir pela permanência ou saída do posto.
O que veio a público nas últimas semanas indica que Juscelino Filho não parece ser uma figura pública fiel a condutas republicanas e transparentes
A maior parte dos casos não envolve o atual cargo, é verdade, mas o que veio a público nas últimas semanas indica que Juscelino não parece ser uma figura pública fiel a condutas republicanas e transparentes. O histórico recente dá margem para imaginar que não será mais surpresa se novos episódios desabonadores e vícios patrimonialistas surgirem daqui para a frente.
Uma das mais recentes descobertas sobre as atitudes do ministro das Comunicações aponta que ele recebeu diárias e utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para se deslocar a São Paulo, mas a maior parte da agenda foi particular, inclusive com a participação em dois leilões de cavalos. Flagrado, Juscelino disse vai devolver o dinheiro das diárias. Seria o mínimo a se esperar. O gesto, no entanto, não anula a falta de compostura, para ser generoso com o ministro, que claramente desrespeitou os códigos de ética da administração pública.
Denúncias do jornal O Estado de S.Paulo também mostraram que, usando recursos do orçamento secreto, Juscelino destinou verbas para asfaltar uma estrada que serve a uma fazenda de sua propriedade no Maranhão. Veio ainda a público que, quando registrou sua candidatura à Câmara, no ano passado, omitiu do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) R$ 2,2 milhões de patrimônio em cavalos.
Ao que parece, Juscelino Filho, um obscuro deputado federal do baixo clero eleito pela primeira vez em 2014, está no cargo apenas por influência do centrão, e não por competência. Sequer o seu partido o reconhece como da cota da sigla. O deputado tampouco tem afinidade com a área das Comunicações, mas, mesmo assim, comanda uma pasta de grande relevância pela constante evolução digital, que, neste ano, conta com um orçamento de R$ 3 bilhões. Até agora, só produziu dor de cabeça para o governo e não há qualquer expectativa positiva quanto ao que poderia contribuir para o desenvolvimento da área no país.
Lula já afirmou em outras oportunidades que a presunção de inocência deve ser respeitada, mas adiantou que se o ministro não conseguir provar que não fez nada errado será demitido. A conferir, portanto, a solidez das justificativas de Juscelino. A seriedade da promessa feita pelo presidente da República na reunião ministerial de 6 de janeiro de não transigir com malfeitos de sua equipe passa pelo primeiro teste.