Há diversos aspectos a considerar em relação ao desempenho da economia do país em 2022. Em primeiro lugar, o avanço de 2,9% apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é um resultado muito acima do que se esperava. Na virada do ano, economistas respeitados e instituições financeiras renomadas alertavam para a possibilidade de um crescimento pífio, ao redor de 0,5%, e a manutenção do mercado de trabalho fraco, com taxa de desemprego na casa dos dois dígitos. Não foi o que ocorreu, felizmente, por uma sucessão de fatores que não apareciam de forma mais clara, como uma recuperação mais forte do setor de serviços após o período mais crítico da economia, estímulos governamentais ao consumo interno e valorização das commodities.
Com medidas e sinalizações lastreadas no bom senso, é possível ter esperanças de chegar ao fim do ano com nova surpresa positiva
Mas 2022, cujo resultado merece ser celebrado, está no retrovisor e deve-se olhar para a frente. Gera preocupação, agora, o grau de desaceleração da economia, notado de maneira mais nítida a partir do último trimestre. Conforme o IBGE, de outubro a dezembro, o PIB caiu 0,2% ante os três meses imediatamente anteriores. Os primeiros sinais de atividade em 2023, da mesma forma, não causam nenhum entusiasmo. É evidente a perda de fôlego. Os efeitos da retomada dos serviços provavelmente não se repetirão em 2023. Por outro lado, desde o final do ano passado, começaram a ser sentidos os reflexos da escalada da taxa Selic. O juro básico da economia, no patamar de 13,75% ao ano, é fator desestimulante para a atividade econômica por encarecer o crédito e frear investimentos e consumo.
O ano começa com os índices de confiança interrompendo a trajetória de alta observada no ano passado. Persistem ruídos em relação à responsabilidade fiscal por parte do governo federal. O endividamento das famílias e das empresas está em níveis bastante elevados. O crédito dá sinais que merecem atenção. A inflação permanece em patamares preocupantes, e o mercado de trabalho também sinaliza desaceleração. São elementos que tendem a deixar a atividade claudicante, ao menos no primeiro semestre.
Não há novidades no que se prega em relação a iniciativas que poderiam ajudar a desanuviar o horizonte, melhorar o ambiente de negócios e renovar a segurança de empresários, investidores e consumidores. Por parte do governo, não se exige nenhum voluntarismo ou intervenção, mas o básico. No caso, manifestar reiteradamente e de forma inequívoca o compromisso com a sustentabilidade das contas públicas, para criar condições de o Banco Central dar a largada em um novo o ciclo sustentável de corte da Selic.
Nesse ponto, será basilar a qualidade da proposta de novo arcabouço fiscal, que deve ser apresentada neste mês e exigirá grande esforço e articulação para ser aprovado no Congresso. A reforma tributária, esperada há mais de duas décadas, também tem agora uma oportunidade de enfim ser votada. Tem efeitos práticos positivos a médio e longo prazos, mas guarda potencial de injetar novo ânimo nos agentes econômicos. Outra pauta urgente é solucionar o alto nível de endividamento e inadimplência das famílias. Assim, aguarda-se para a próxima semana a apresentação do programa Desenrola, prometida pelo governo federal. Com medidas e sinalizações lastreadas no bom senso, é possível ter esperanças de chegar ao fim do ano com uma nova surpresa positiva, acima do percentual de 0,84% hoje projetado pelo mercado, mesmo que não na mesma magnitude do PIB de 2,9% de 2022.