A invasão da Ucrânia pela Rússia completa hoje um ano, e tudo o que se tem a fazer, além de lamentar pela continuidade do conflito, é postular novos esforços diplomáticos que possam reacender a esperança de fim da guerra. Não é, infelizmente, o cenário mais provável até onde o horizonte permite enxergar.
É preciso persistir nas negociações diplomáticas à procura de um consenso possível que leve ao cessar-fogo definitivo
Às vésperas da trágica efeméride, causada por uma injustificável agressão promovida pelo autocrata russo Vladimir Putin, a retórica belicista se sobrepõe aos apelos pela paz. Teme-se, inclusive, um recrudescimento dos combates, com uma nova ofensiva organizada pelo Kremlin. Putin eleva o tom das ameaças, recorrendo até a intimidações que sugerem o uso de armas nucleares.
Do outro lado do conflito, a Ucrânia resiste bravamente ao poderio da Rússia. As previsões de que Kiev cairia rapidamente, nos primeiros dias da guerra, falharam miseravelmente. Os ucranianos, com a ajuda do Ocidente, fazem frente aos ataques e retomam territórios que chegaram a ser ocupados pelas tropas adversárias. Estados Unidos e Europa, determinados a deter a sanha expansionista de Putin, garantem armamento suficiente para as forças armadas ucranianas evitarem uma tomada do país. O presidente norte-americano, Joe Biden, fez na segunda-feira uma visita surpresa ao colega Volodimir Zelensky e, na Polônia, em discurso, assegurou que a Rússia não vencerá o conflito. Foi mais um sinal de prosseguimento das batalhas.
A invasão da Ucrânia deixou até agora um rastro de dezenas de milhares de mortes, inclusive de civis e crianças, uma onda de refugiados e destruição de infraestrutura, reavivou o fantasma da Guerra Fria e legou ao mundo a ameaça da inflação e da fome, pelo aumento dos preços de combustíveis, fertilizantes e alimentos. São reflexos que chegaram ao Brasil e ao Rio Grande do Sul, na forma, por exemplo, de custos das lavouras, cenário agravado pela seca. Outra consequência nefasta foi a interrupção momentânea do processo de descarbonização, com países ricos tendo de recorrer emergencialmente inclusive ao carvão para gerar energia. Sanções do Ocidente, por outro lado, afetaram a economia russa, mas muito aquém do que chegou a ser projetado.
Por parte do governo brasileiro, ao menos nas últimas semanas, ajustou-se o posicionamento, com condenações mais claras à violação da soberania ucraniana pela Rússia. Com ou sem capacidade de dar alguma contribuição, o fato é que o Brasil advoga a busca por um pacto que conduza à paz.
E é esse o objetivo a ser perseguido, talvez com a colaboração de nações que hoje não estão envolvidas direta ou indiretamente na guerra e que poderiam abrir algum canal de diálogo tanto com Moscou quanto com Kiev. Não será tarefa fácil, de qualquer forma, mediar e construir um acordo aceito pelos dois lados. A Ucrânia é o país invadido e dificilmente cederia territórios. Para Putin, qualquer recuo poderia ser interpretado como uma humilhação. Não se deve esmorecer, no entanto. É preciso persistir nas negociações diplomáticas à procura de um consenso possível que leve ao cessar-fogo definitivo.