O ano político de 2022 ficará na história do Brasil com a marca da guerra eleitoral que dividiu não apenas a classe política, mas também eleitores, famílias, amigos e companheiros de trabalho. No pleito mais polarizado desde a redemocratização do país, a disputa pelo poder e por cargos públicos caracterizou-se por acusações e ofensas entre os candidatos durante o debate eleitoral e por notícias falsas, mentiras e mensagens de ódio entre eleitores nas redes sociais. A rivalidade política provocou brigas e inclusive mortes entre militantes mais exaltados. Em consequência desse ambiente de enfrentamentos, o país correu riscos até mesmo de uma ruptura institucional, obstada pela oportuna emergência de movimentos de defesa da democracia e das instituições republicanas.
Com a consolidação do novo governo, é de se esperar que os movimentos renitentes arrefeçam e derivem para a prática de uma oposição sadia
De modo geral, as instituições funcionaram satisfatoriamente nos momentos de maior tensão e de conflitos entre os poderes. Diante de um presidente da República que flertou com o golpismo, levantando suspeitas infundadas sobre a segurança das urnas eletrônicas e minando a confiança de parcela da população na lisura do processo eleitoral, o Poder Judiciário reagiu com firmeza, o parlamento cumpriu o seu papel constitucional e várias organizações da sociedade civil mobilizaram-se pela preservação do ordenamento democrático. Deu certo: o Brasil realizou a mais polêmica eleição de sua história de forma ordeira, pacífica e absolutamente transparente, acompanhada e fiscalizada por observadores internacionais, que culminou com a inquestionável manifestação da vontade da maioria da população pela alternância de poder.
A guerra eleitoral, porém, deixou ressentimentos de parte a parte, além de uma preocupante irresignação por parte de apoiadores do candidato derrotado. Esse inconformismo reflete-se nos inusitados acampamentos de militantes em frente aos quartéis e já teve pelo menos dois momentos de alta voltagem: os atos de vandalismo registrados em Brasília quando da diplomação do presidente eleito; e a recente e frustrada tentativa de atentado a bomba nas proximidades do aeroporto do Distrito Federal.
Mas esta página constrangedora da história do Brasil parece prestes a ser virada. Com a consolidação do novo governo, é de se esperar que os movimentos renitentes arrefeçam e derivem para a prática de uma oposição sadia, de acordo com o regramento democrático. Também é desejável que os novos ocupantes do poder saibam superar as feridas da campanha eleitoral e evitem revanchismos e perseguições. O Brasil precisa de todos para se desenvolver em paz.
No âmbito estadual, cabe reconhecer que a disputa eleitoral também foi acirrada, mas acabou prevalecendo a civilidade e o respeito ao resultado das urnas. Tão logo foi anunciado o vencedor, seu oponente no segundo turno, que protagonizara uma deselegância na campanha ao recusar um aperto de mão, veio a público para manifestar reconhecimento à escolha da maioria. Nem todos aprenderam, mas o ano eleitoral também deixou saudáveis lições de sensatez e resignação.