A retrospectiva da economia brasileira no ano que está terminando registra pequenos avanços e muitos sobressaltos, deixando enormes desafios para os próximos governantes. Apesar do desemprego em queda, a renda dos brasileiros também desabou e a inflação voltou a assombrar o país, refletindo-se especialmente no preço dos alimentos e aumentando o contingente de brasileiros na faixa de insegurança alimentar.
Depois do tombo histórico da economia brasileira em 2020, devido à pandemia, e da razoável recuperação no ano passado, velhos problemas reapareceram em 2022, entre os quais a disparada nos preços e a elevação impiedosa dos juros na tentativa de conter a inflação decorrente da guerra da Ucrânia e de seus efeitos colaterais no custo de alimentos e combustíveis. Para aliviar a pressão no ano eleitoral, o governo cortou tributos, com ênfase na redução forçada do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado pelos Estados sobre os combustíveis. Como os preços internacionais do petróleo também perderam força, deu bom resultado. Mas a bomba ficou armada para o próximo governo desativar.
As prioridades do futuro governo, portanto, devem ser a garantia de segurança alimentar aos brasileiros que passam fome e a reorganização das contas públicas
Outro fenômeno no âmbito da administração pública foi o crescimento recorde da arrecadação, decorrente exatamente dos preços elevados que asseguram mais tributos e impostos para o governo. Porém, mesmo com superávit nas contas públicas, faltaram recursos para áreas essenciais como saúde e educação, e especialmente para os compromissos assumidos com os benefícios sociais. Por isso, o novo governo terá que se utilizar de artifícios fiscais para driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal e cumprir o prometido.
Mesmo os avanços mais notáveis da economia nacional neste ano, que foram a queda do desemprego e a leve retomada do crescimento, são questionáveis. A taxa de desocupação começou a baixar ainda no primeiro semestre, mas a qualidade do trabalho e a renda dos trabalhadores pouco evoluíram. No trimestre encerrado em outubro, segundo o IBGE, quatro em cada 10 trabalhadores atuavam na informalidade – cerca de 40 milhões de pessoas, considerando-se a atual força de trabalho no país.
No que se refere ao crescimento econômico, o Brasil voltou a registrar o que os economistas chamam de voo da galinha: pequenas arremetidas e pouso. Depois de 12 meses de aceleração, a economia brasileira voltou a perder força no terceiro trimestre do ano, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um crescimento de apenas 0,4% do PIB entre julho e setembro, abaixo do 1% dos três meses anteriores. Se a inflação elevada e os juros altos podem ser considerados entraves pontuais, e até superáveis, fatores como baixa produtividade, baixo investimento e educação deficiente continuam sendo obstáculos crônicos ao desenvolvimento do país.
As prioridades do futuro governo, portanto, devem ser a garantia de segurança alimentar aos brasileiros que passam fome e a reorganização das contas públicas, mas no médio e longo prazo os desafios serão soltar o freio de mão da atividade econômica, reduzir taxas de juros e gerar empregos qualificados em quantidade suficiente.